O DIREITO DE ESCOLHER MELHOR
Querer fazer parte de um grupo, é uma das características marcantes da raça humana. Seguindo a maioria, pessoas se sentem seguras e abrigadas na diluição da responsabilidade de assumir para sua vida, as dezenas de milhares de decisões que lhe são apresentadas.
É o que leva uma grande parte a buscar mesmas condutas e práticas de outros semelhantes. O mote do “Se foi bom para alguém, deve ser bom para mim”, reduz a responsabilidade na escolha de opções, mesmo que outras possibilidades pudessem se mostrar mais vantajosas.
Isto se dá em níveis variados, de manifestações simples até escolhas sem qualquer senso, como começar a fumar, numa demonstração de que impera o pensamento do “se muitos o fazem, é por que deve ser muito bom”.
Tomemos um exemplo, que vem se tornando a mais nova praga por aqui: o café expresso nos restaurantes.
O cafezinho brasileiro é considerado, quando bem preparado, uma das bebidas mais saborosas do mundo. Estrangeiros que aqui chegam para uma visita, encantam-se com o seu sabor, aroma e farta disponibilidade.
Ao nosso cafezinho tradicional, contrapõe-se hoje em grande parte dos restaurantes, algo que só remotamente lembra um expresso (ou Espresso, como é conhecido na Itália, seu país de origem), preparado por alguém sem qualquer paladar ou prática na área, o que leva o consumidor ao pedido de uma maior diluição com água, de forma a reduzir seu amargor, no que se convencionou chamar no Rio de Janeiro de “expresso carioca”.
Tal como nosso café, um bom expresso deveria se limitado a ser preparado em casas especializadas, não sendo aquilo que é servido hoje nos restaurantes.
O gosto obtido é melhor que do que era tradicionalmente servido? Não. É amargo de tal forma que solicita mais açúcar ou adoçante, tornando-se um xarope ou na forma diluída do expresso carioca, tão saboroso quanto uma malzbier requentada...
Por que então no país do melhor cafezinho do mundo, grande parte dos restaurantes o substituiu pelo expresso? Provavelmente, para seguir uma tendência do mercado. Venho indagando a seus donos as razões que o levaram a troca e tudo o que obtenho deles e dos garçons, é sempre uma mesma resposta, que nada responde: “- Agora nós só trabalhamos com o expresso”.
Imagino que o motivo real para empurrar uma bebida tão intragável, seja para poder justificar a cobrança mais cara, pelo consumo de algo que antigamente era quase gratuito. E o que vão acabar conseguindo com isso, é eliminar este hábito tão brasileiro, após as refeições em suas casas. O estúpido de toda a situação, é que o cliente possivelmente pagaria o mesmo valor por um saboroso cafezinho “do bule”, se pudesse ter esta opção ao invés de sua “sofisticada”, mas insuportável versão de expresso. Fico imaginando se os escoceses se disporiam a parar de tomar seu uísque, só porque o consideram um produto nacional...
Como quem impõe a estupidez só encontra aceitação entre os que abdicam de pensar e eu continuo prezando muito o meu direito de escolha e inteligência, dispensei o seu consumo nos restaurantes. Muitas vezes, até atravesso a rua após o almoço e vou tomar um cafezinho verdadeiramente carioca, no bar da esquina em frente. E quando quero um verdadeiro expresso, vou a uma casa especializada, onde a variedade e o cuidado em sua confecção, acompanham o pedido.
Aos que tem as papilas gustativas funcionando e ainda são capazes de distinguir o saboroso do pavoroso, deixo aqui uma sugestão de traje para ser usado ao comer fora: uma nova linha de camisetas “sofisticadas”, bem ao gosto dos que vem tentando incorporar à força nos restaurantes, este desgosto importado:
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