quinta-feira, março 29, 2012

IPAD 3 - VELHA MENTALIDADE EM NOVA EMBALAGEM

O problema com os mitos, é que seus acólitos não admitem a mera possibilidade da existência de falhas. Tudo que envolve um mito é e deve permanecer maravilhoso, para que fervorosos devotos possam a cada dia, justificar sua adoração. Mesmo que ao preço da cegueira auto-imposta.

Assim é com cada religião, ideologia política, times de futebol do coração ou produtos e personalidades ligados à Apple: nenhuma verdade deve se interpor no caminho da adoração.

Quando se fala do fenômeno fã, devemos lembrar sempre que estamos saindo do campo da racionalidade e entrando no da idolatria, onde não se admite senões em seus ídolos.

Para fãs, tudo bem se a história demonstra que a esquerda transformou grandes países em enormes gulags e seus políticos roubam da mesma forma que a direita; se um gol é marcado com a mão para garantir vitória do time; se um sacerdote se aproveita de menores ou rouba dos fiéis; ou mesmo se um produto lançado, é na verdade uma linda algema que aprisiona o direito do usuário.

Nada disso importa, pois ídolos não erram! Estes tem sempre razão, mesmo que transcendam a ética. E os acólitos existem para defendê-los e referendar suas práticas, sacrificando seus preceitos no altar onde homenageiam seus ideais. Que peso poderia ter a realidade, na grande ilusão em que vivem? Para eles, basta a velha justificativa do filme de faroeste “O homem que matou o facínora” (“The man who shot Liberty Valance”), “Quando a lenda é maior que o fato, publique-se a lenda".

O fato de Steve Jobs nunca ter programado nada ou criado nenhum dos equipamentos que tornaram a Apple notória, não deve obscurecer o crédito que tomou de seus engenheiros, quando se divulga que era um gênio na computação.

O fato de que o Steve genial era o Wosniak, este sim o gênio por trás dos computadores originais que deram fama a Apple, não deve diminuir os holofotes que atribuíram a Jobs a “maestria” na informática. Sendo este um extraordinário profissional de marketing, isso ele realmente era, sua memória não deve ser ofuscada pelo aprisionamento que impôs a seus consumidores, roubando-lhes a liberdade de usar o equipamento comprado como desejassem. Afinal, se por um lado vendeu-lhes grilhões que os acorrentassem à Applestore, é preciso admitir, que estes eram visualmente muito bonitos e elegantes, agradando a masoquistas de todas as idades, que chegaram a esperar de madrugada nas portas das lojas, o direito de poder comprar a mais nova “coleira” à venda, do último modelo, que assim como os outros lançados anteriormente, superaquece, continua sem uma entrada USB ou acesso a cartão de memória e necessitando de um Jailbreak para rodar programas livremente, pelo qual cada comprador perderá a garantia, se se atrever a utilizá-lo. Ipad 3, “por fora bela viola, por dentro pão bolorento”.

E quanto mais assisto ao espetáculo do marketing da ilusão que engana fervorosos devotos, mais me lembro da velha frase atribuída erroneamente a PT Barnum, dono do famoso circo americano Barnum & Bailey, que falsificou uma cópia de uma outra falsificação e a “vendeu” ao honorável público como legítima: "There's a sucker born every minute" * (Nasce um otário a cada minuto).

Lucio Abbondati Junior

*o autor original da frase é David Hannum, proprietário da fraude que Barnum copiou e

vendeu como sendo o “autêntico” Homem de Cardiff

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