CONSERVANDO VALORES PESSOAIS
Assisti recentemente a última obra do diretor Woody Allen, “Meia noite em Paris”, onde o personagem idolatra a velha cidade luz das décadas de 20 e 30. A nostalgia pelo passado onde viveram seus ídolos o fascina, no que ele mergulha de cabeça e alma, para erguer-se ao fim, maduro e revigorado.
É um filme encantador, que vale seguramente o ingresso e que traz a tona uma questão sempre presente: tem gente que cita outras épocas como um período melhor, desqualificando as experiências que vivencia no dia a dia.
Confesso de antemão, que não tenho qualquer idolatria por um tempo passado (sou um fã inveterado do presente), mas preservo em mim a apreciação por atitudes e modos que, que em muitas épocas, eram hábito corriqueiro, com uma enorme ênfase naqueles que demonstram alguma afetuosidade ou deferência.
Abrir porta para alguém entrar no carro, cumprimentar pessoas (sejam conhecidas ou não), oferecer carona e levar alguém até sua casa sem necessidade, levar flores e o café para a amada, sentar com ela para conversar e planejar sonhos, lembrar datas especiais, saborear uma canja ou um Milk-Shake, conversar, brincar e jogar com os filhos e amigos do círculo interno, cantar e assoviar frequentemente (em qualquer lugar), rir e me encantar com as pequenas maravilhas do dia, são hábitos absolutamente naturais que me parecem ter caído em desuso. As coisas chegaram a um ponto que, em algumas situações, sou chamado a atenção por fazê-lo!
Neste mundo apressado e conciso, perder tempo com atitudes singelas ou gentis, parece ter se tornado algo fora de propósito.
Nem acho que conseguiria ser pragmático, a ponto de ignorar o que me faz ser o que sou. Gosto de agir assim no presente e acho que tais atitudes não deveriam ficar relegadas a qualquer época específica. Pelo menos, não para mim.
Será que isto me faz saudoso de um tempo “mais elegante”? Acho que não. Todas as épocas tem virtudes evidentes, inclusive a atual. E de cada uma podemos recolher os atos que considerarmos mais afeitos ao nosso caráter. Tudo é questão de gosto pessoal e não, de moda.
A moda induz a condutas ou necessidades, de forma artificial, estipulando comportamentos ou aparência, mas forçosamente, não determina a obrigatoriedade de adesão. Quem o faz, opta por alinhar-se pela conduta da maioria, sem questionar validade ou mesmo afinidade, num caso de pura omissão da personalidade.
A ausência de questionamento deu origem a um número infinito de “criações” ou práticas absurdas, como “lindos” sapatos que torturam os pés, o corpo e a postura; a magreza cadavérica como estética dominante; o fumar, o beber e o drogar-se para ser aceito em um grupo e tantos outros hábitos sem sentido, que foram incorporados por quem abdica do livre pensar.
Sou de uma época onde eu queria ser diferente, destacando-me da multidão por meus méritos. A gentileza e olho no olho eram parte do sentir, então. Hoje, a maioria incorpora-se a um grupo para ser socialmente aceito, diluindo sua manifestação pessoal e o reconhecimento da diferença como uma virtude.
Em mim conservo fresca e sempre pronta para uso, as memórias de momentos onde amigos se reuniam para tocar músicas e cantar ou para sentar ao redor de jogos de tabuleiro por horas, rindo e comendo pizza. Causo estranheza ao passar nas ruas assoviando minhas músicas preferidas (trilhas sonoras sinfônicas de cinema e TV, músicas clássicas, jazz ou rock progressivo) e algumas vezes, provoco alegria e contágio, despertando velhos assoviadores, que já sem prática, começam a assoviar após a minha passagem.
São hábitos que para muitos pragmáticos, saíram do que se estipulou como moda. O estranho é que nem deveriam ter sido alvo dela. O que dá prazer pessoal deve ser conservado, cuidado e exercido, esteja na moda ou apesar dela. Afinal, quem deverá viver ou ditar as regras de sua própria vida: o indivíduo ou o meio que o cerca? Por que se deve dar poder a qualquer grupo, de determinar como devemos ser felizes? Pense nisso e recupere algum hábito que sempre o fascinou.
Você merece!
Lucio Abbondati Junior
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