V DE VINGANÇA
De tempos em tempos o cinema nos entrega alguma obra com méritos a serem comentados, endossados e aconselhados. Recentemente, a Warner Bros nos premiou com uma delas – o filme V de Vingança (V for Vendetta). É um filme que convida a ser visto mais de uma vez pelo espectador, tamanho o impacto que suscita.
Baseado no quadrinho de Alan Moore de 1992, a mensagem do filme é atemporal, não se prendendo a um lugar específico geograficamente, que tanto pode ser a Inglaterra, os Estados Unidos ou mesmo o Brasil de hoje. No filme, dois lados se opõem: um governo que controla a mídia e informação impondo seu poder ao povo à força e o povo, que sofre sua ação calado, descrente que possa mudar alguma coisa.
Como mensagem alegórica contra o controle que os agentes do estado exercem sobre o povo, tem como mote principal a frase:
As pessoas não deviam temer seus governos; os governos é que deviam temer seu povo.
O personagem principal da trama denomina-se V e ele mantém seu anonimato atrás de uma máscara de Guy Faulkes, figura histórica da Inglaterra que em 1605 tentou explodir o parlamento. Através deste artifício, o personagem convida a todos os espectadores a também “vestirem” a máscara e assumir sua persona, contra aqueles que traíram o compromisso assumido com o povo.
V não é um terrorista e sim um justiceiro que se insurge contra um mau governo. Terroristas atacam inocentes e no filme não há inocentes entre os que sofrem sua ação.
O que ele propõe realmente é o verdadeiro significado da palavra ANARQUIA, tomando-se a palavra por sua real semântica: an = negação + arquia = governo (do grego "archon", governante)
Longe de propor a baderna e o terror como a mídia erroneamente tratou o tema do filme, o personagem propõe uma reflexão sobre a questão: precisa-se mesmo de um governo que prive o povo de sua liberdade pela imposição da força, sufocando-o com ações e custos exorbitantes, sem que nada devolva em serviços - segurança, educação, empregos, dignidade, direitos civis e etc?
Ele sugere que o poder e a responsabilidade, devem recair sobre cada cidadão e seus atos e não ser delegado a um só indivíduo que chegue ao cargo maior, com poderes e direitos ilimitados. O poder absoluto corrompe absolutamente.
Em certo momento do filme, V nos relembra que a culpa da existência dos maus governantes permanece sempre nas costas de quem os elege – o povo - que se cala, aceita e endossa pela imobilidade o seu mau desempenho, abstendo-se de “demiti-lo” o mais rápido possível.
Recorde-se e se pergunte: O seu escolhido da última eleição cumpriu o que havia prometido? Beneficiou o povo igualmente ou apenas um seleto grupo de “parceiros muito chegados”?
Admitir que se errou na escolha é sempre difícil, mas necessário para se chegar à verdadeira maturidade. Aquele que é ético não nega o erro, aprende com ele e na próxima vez, escolhe melhor. Ele não anula seu voto e se conforma covardemente com o desastre.
Ele se vinga do mau governante com o V, o Voto de Vingança.
O filme é uma obra importante e que leva a uma profunda reflexão sobre até que ponto pode-se tolerar a impunidade de um mau governo ou seu desgoverno.
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