DO QUE SOU FEITA?
Aprecio romances policiais e de mistério. Personagens como Poirot, Maigret e Miss Marple, cada um com seu jeito característico, me fascinam por seu entendimento da alma humana, a forma como desenvolvem um raciocínio dedutivo e como, ao final da história, invariavelmente chegam ao criminoso em questão.
Nas séries policiais que também assisto com interesse: Criminal Minds, Castle, CSI, NCIS, Os Mistérios do Inspetor Linley, Lewis, Poirot, Rosemary & Thyme, entre outros, os agentes trabalham nos “profiles”: os perfis dos criminosos, segundo as avaliações de seu modus operandi - se são organizados, metódicos, meticulosos e se agem da mesma forma sob pressão, por exemplo. Também estimam sua idade, raça, meio social, trabalho, relações familiares, sexualidade e outras características mais. Através da observação detalhada e criteriosa das cenas dos crimes, analisam e desenvolvem o caráter e o perfil psicológico do criminoso.
Dessa forma, imaginam sua infância, seus pais e amigos, como eram na escola, o que os encantava e o que os amedrontava. Quais fantasmas se escondiam sob a cama ou dentro do armário, que intervenções humilhantes, de raiva ou de culpa, alimentaram as sementes do monstro interior adormecido, aquele pedaço sombrio da alma que todos nós tentamos manter escondido o máximo possível, até de nós mesmos.
Gosto de pensar que somos o resultado de todas as nossas experiências, nossas escolhas, das lembranças truncadas que mantemos, das percepções das realidades que vivemos. Somos observadores de nós mesmos, em frações de prismas brilhantes pendurados na janela que num momento produz luz, para, no instante seguinte desaparecer.
Assim estamos a cada momento formando um novo eu, com reminiscências de pensamentos do que fomos um dia, com memórias sugeridas de nossas vidas.
Gosto do quebra-cabeças que é definir o perfil de um criminoso, mas como o próprio nome diz, o perfil mostra, quando muito, apenas um lado da história.
Então penso na forja, bigorna, martelo, aço, calor e água, os elementos necessários para fazer uma espada, por exemplo. Toda força, energia, convicção empregadas a cada martelada precisa. Esquenta o aço, bate, molha e resfria. Esquenta de novo e de novo bate, molda, torce, resfria. O que nos forja, atua em nós todo tempo. Sem trégua. Sem descanso.
Somos feitos do que nos forja todo dia.
Talvez por isso, ainda não tenha feito meu perfil no Facebook.
Lucia Vasconcellos Abbondati
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