quarta-feira, agosto 02, 2006

A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NA SOCIEDADE DO SÉCULO XXI - PALESTRA UFF - 28/07/2006

Gentilmente convidado pela Professora e Mestra Rejany Dominick, da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, no dia 28 de julho de 2006 tive o prazer de proferir a palestra “Paidia – A Importância do Lúdico na Sociedade do Séc. XXI”, no auditório Florestan Fernandes, da UFF, como parte das atividades inaugurais do Centro de Aprendizagens, Pesquisa e Extensão, com o lançamento do CABE (Cultura, Corpo, Arte e Brinquedo em Educação), pela Faculdade de Educação. Dividiram o “palco” comigo, as professoras Lucia Fidalgo, que nos contou uma linda história e Maria Lucia Cunha Lopes de Oliveira da Faculdade de Educação, com sua palestra “Artevida”.

O que mais chamou a minha atenção foi o fato de que já há em curso nestes centros acadêmicos, uma real e necessária mudança nos paradigmas do que é o verdadeiro sentido da educação, contemplando uma compreensão não linear de conceitos.

A receptividade do público as idéias de que a equivocada escola iluminista (centrada na visão de que o aprendizado visa apenas formar trabalhadores) perdeu sua validade e a possibilidade de vislumbrarmos grandes mudanças na forma de construir informação e conhecimento, me pareceu finalmente estar tornando-se um sólida realidade.

Como resquício deste aprendizado do século XVIII, ainda hoje em nossa sociedade, classificam-se as pessoas pelo ofício que exercem e este “rótulo” define todas as relações sociais e interpessoais.

Muitos em nossa sociedade ainda querem fazer crer que o ser humano pode e deve ser valorizado apenas pelo rendimento que puder obter no exercício de uma profissão. O valor de um indivíduo ainda é hoje quantificado pelo sucesso financeiro que este obtém em seu ofício, esquecendo-se que somos bem mais do que fazemos em nossos trabalhos.

Quantos são aqueles que ganham “rios de dinheiro” no exercício profissional diário, considerados como bem-sucedidos e que “torram” a maior parte do recebido nos consultórios médicos e nos medicamentos, para tolerar a péssima qualidade de vida que levam?

Quantos são os que “surtam” aos 40 anos, ao olharem para trás e perceberem que nada construíram em suas vidas de significativo, além do exercer de uma labuta diária, que além de vazia e intolerável, de nada serviu para que estes se sentissem realizados em suas vidas? E a que preço? A perda de relacionamentos efetivos e afetivos com esposas, filhos e amigos, a inexistência de um espaço pessoal significativo, do tempo de reflexão, do exercício da criatividade e da manifestação pessoal no dia a dia.

A inexistência de objetivos e metas pessoais parece permear todas as pessoas de nosso século, que quando indagadas sobre o que lhes dá prazer sequer sabem distinguir passatempos de realizações. A grande maioria nem lembra mais de seus talentos, nem de suas manifestações criativas, do exercício pessoal de sua criatividade, inerente a todas as crianças que um dia estes adultos já foram.

A desqualificação dos talentos pessoais e a destruição sistemática da utilização da imaginação e do exercício da criatividade nos colégios, é uma constante que a pedagogia iluminista legou a estas dezenas de gerações, com profundos reflexos em nossa sociedade atual. “A obrigação vem em primeiro lugar”, dizem os sábios de plantão e quando esta acabar, uma nova obrigação o estará esperando e outra sucessivamente, até que cada um esteja bem treinado em cumprir as ordens sem questionar sua validade ou pensar por si mesmo - um sistema robótico de programação.

A manifestação artística ficou relegada a uns poucos subversores da “máquina pedagógica”, que ousaram firmar o pé e continuar exercendo seus dons criativos, mesmo contra toda a grande resistência do meio social, doutrinado a ferro e fogo a considerar tais manifestações inúteis e pouco pragmáticas.

Esquece-se o meio social, de que as mudanças das quais a sociedade se nutre, provém exatamente destes subversores. Sem eles, estaríamos condenados a estagnação social e a perda de um necessário progresso nas relações sociais, na evolução tecnológica e no conhecimento.

O trabalho manual, depreciativamente rotulado como “artesanal”, tão desqualificado na comparação ao exercício intelectual, é confundido erroneamente como uma manifestação menor e não como uma expressão da criatividade pessoal. Aquele que o faz é inclusive tratado como alguém que não teve capacidade de arranjar uma boa ocupação em algum lugar. O fato leva o meio social a falsa impressão de que o uso das mãos como exercício de criatividade é uma demonstração indigna e pouco relevante. Com isso, são raras as pessoas que em seus momentos de privacidade pessoal, utilizem as mãos para o exercício de talentos ou a produção de manifestações criativas.

Entretanto, os cientistas contemporâneos ligados à pesquisa da cognição e da linguagem, sugerem hoje que a capacidade de expressão da inteligência humana, é essencialmente decorrente da utilização e especialização que nossos primatas ancestrais deram ao uso das mãos, tendo sido este o fator que nos diferenciou primordialmente dos outros animais. Tal fato parece bastante lógico, se lembrarmos que a área motora que compreende o uso dos polegares no encéfalo, é absolutamente gigantesca em relação a todas as outras, estabelecendo sinapses entre seu uso e todos os centros cerebrais a ela interligados. A atividade manual é o exercício prático do que o intelecto planeja, sendo portanto, sua extensão essencial. A teoria é ótima, mas a prática é quem a corrobora e lhe dá validade.

A extinção das cadeiras de artes ou música na maioria das escolas, onde o uso das mãos ganha diversidade e prática livre, revela-se agora um enorme contra-senso, profundamente lesivo ao desenvolvimento dos alunos. A ausência do exercício manual sob o comando combinado da imaginação e inteligência, poderá determinar o quão incapaz frente a vida, um ser humano poderá ser quando adulto e o quanto uma sociedade poderá estagnar na ausência do pensamento criador.

Foi enorme a minha satisfação ao verificar neste congresso, que o desvio adotado há quase trezentos anos rumo a imbelicilização humana começa agora a ser questionado e que novas possibilidades pedagógicas estão sendo vislumbradas nos horizontes daqueles que fazem da construção do conhecimento, o seu sacerdócio. Parabéns a todos os que querem restituir ao homem, o seu destino criador.

Lucio Abbondati Jr

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Adorei rever você e a Lúcia lá na UFF. São pessoas como vocês, que enchem de vida e esperança nossa dura realidade acadêmica, como mostra esse texto. Adorei relembrar as palavras doces e instigantes que você proferiu. Vocês ganharam mais uma "fã"! RSrsrs! Beijos!
Ariadne Ecar

8:53 PM  
Anonymous Anônimo said...

HAUHAUA Adorei o finalzinho do texto onde você escreve: "rumo a imbelicilização humana"...
Lí 3 textos até agora (os 3 primeiros) e esse me encheu os olhos... acho q vc poderia prever isso né?
Ainda não sei a palavra q me define ou qual religião ou crença q se identifico... porque cada uma delas tem algo que me chama a atenção... mas vejo pelo lado bom e acredito hoje q ser "MULTI" não é falta de personalidade ou estranho é apenas o meu jeito "multi" de ser... hauahaua
Espero q tenha compreendido o que eu falei ! ^^
Eu posso gostar de Lorena Mc Kennity (acho q se escreve assim) e MachineHead (banda de rock) numa boa.... hauahaua

Ps: desculpe qualquer erro de português, afinal de contas não fui muito feliz nas aulas de português... hauaha

Bjos... brigada por se lembrar do dia que faço anos, e não é qualquer coisa são 20 anos! aiaiai entrei pra casa dos vinte já! tô ficando desesperada já! hauaha

7:18 AM  

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