domingo, fevereiro 17, 2008

MARVA COLLINS, A EDUCADORA

Marva Collins é uma educadora americana que infelizmente, poucos conhecem no Brasil. Seu trabalho investe na excelência do ser humano, reconhecendo neste, o portador de um potencial ilimitado que deve ser estimulado a expandir-se.

Ela emprega no ensino o método socrático e o sucesso de seu trabalho fala per si. Aplicado exaustivamente a crianças de baixa renda, muitas até consideradas incapazes ou mesmo portadoras de um Q.I. rústico, sempre obteve resultados extraordinários, em pouquíssimo tempo.

Tornando seus alunos vorazes leitores e mesmo, excepcionais oradores, ela os estimulou a pensarem por si mesmos, tornando-os cidadãos independentes e confiantes, prontos para enfrentar os percalços da sofisticada sociedade em que vivemos.

Baseado no estudo estatístico da Universidade de Chicago (Curva de Bell), que demonstra que de cada 33 crianças oriundas de ambientes socialmente desprovidos, uma acaba morta, duas na cadeia, cinco passam a viver do seguro social, o Programa “60 Minutes” esteve em sua escola (a “Westside Preparatory”), em setembro de 1995, curiosos para descobrir o que teria acontecido a seus formandos. E o resultado foi mais que auspicioso: os graduados da Westside mostraram-se todos vivendo de forma bem sucedida, tanto na carreira profissional, como na vida acadêmica. Numa eficiência esmagadora, que dissolve qualquer dúvida sobre a validade de seu método, seus aprendizes tornaram-se profissionais e empresários bem sucedidos, que adicionaram valiosas contribuições à sociedade americana, muitos optando por carreiras ligadas aos setores culturais e educacionais.

Sua história foi inclusive vertida para um telefilme, muito exibido na década de 70 e 80 nas TVs brasileira e que só agora chega lá fora, aos DVDs (quem sabe, também chega por aqui, um dia).

Devemos lembrar sempre, que estes se originaram nos guetos da pobreza e dos locais desassistidos, mas que isto não os impediu, pela excelência do método, de alçarem os ápices da camada social.

Seus livros e sistema, infelizmente, ainda continuam ignorados no Brasil, sem uma devida publicação em nosso idioma, o que demonstra que para alguns, a ignorância ainda continua sendo motivo de duvidoso orgulho.

Apenas para dar um gostinho de sua filosofia de ensino e viver, seguem abaixo algumas afirmações desta excelente professora, pinçados de seus textos, trabalhos e prática:


  • "Há uma criança brilhante trancada dentro de cada estudante."


  • "Não tentem corrigir os estudantes, corrijamo-nos primeiro. O bom professor torna bom o mau aluno e o bom aluno, superior. Quando nossos estudantes falham, nós, como professores, também teremos falhado."


  • "Uma vez que uma criança aprenda a aprender, nada mais irá estreitar a sua mente. A essência do ensino é torná-lo contagioso, para que uma idéia dispare outra."


  • "Confie em si mesmo. Pense por si mesmo. Aja por si mesmo. Fale por si mesmo. Seja você. A imitação é suicida."


  • "A excelência não é uma ação, mas um hábito. As coisas que você faz a maior parte do tempo, são aquelas que você faz melhor".


  • "Determinação e perseverança movem o mundo; pensar que os outros farão as coisas por você, é escolher o caminho certo em direção ao fracasso."


  • "O Sr. Pretendia Fazer tem um amigo, seu nome é Não fiz. Você já os encontrou? Eles moram juntos, em uma casa chamada Fracasso. E ainda me disseram que ela é assombrada por um fantasma chamado Deveria Ter Acontecido."


  • "O sucesso não vem até você, você é que vai até ele."


  • "Se você não se permite cometer um erro, então não consegue concretizar coisa alguma."


  • "Personalidade é o que você sabe que é e não o que os outros pensam que você tem."


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Na postagem seguinte a essa, há uma tradução para o português de um texto da própria Marva Collins, onde ela dá alguns detalhes de seu método. Preferindo ler no original em inglês, basta clicar sobre ESTE LINK.

Não é ótimo ver como algumas pessoas conseguem construir o mundo, como ele realmente deveria ser?

Lucio Abbondati Junior

O MÉTODO MARVA COLLINS

Este texto foi retirado do blog da Professora Marva Collins, onde ela fala sobre sua forma de educar:

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Meu programa educacional e metodologia são baseados no método socrático. Sócrates foi um filósofo e professor ateniense que viveu entre 470 e 399 A.C. O método socrático ensina através do uso de uma série de perguntas e respostas, onde as definições lógicas, pontos de vista ou significado dos conceitos, são testados. O método socrático é baseado na análise lógica, o que conseqüentemente, desenvolve nos estudantes uma soberba capacidade de raciocínio.

Eu seleciono materiais de leitura que contenham idéias abstratas. Estas idéias podem ter e terão diferentes significados para os diferentes estudantes, que não determinam uma única resposta correta, mas diversas interpretações possíveis. Ex: Na “República” de Platão, Sócrates indaga o que é justiça e suas questões aos estudantes revelam que “justiça”, mostra-se um conceito que tem várias definições. O propósito do ensinar, eu acredito, não é apenas dominar materialmente conhecimentos factuais, mas também ensinar aos estudantes como pensar, encorajando-o a realmente pensar por si mesmo. A habilidade de raciocinar e analisar logicamente, irá continuar viva nos estudantes, mesmo que a retenção dos fatos memorizados se perca.

Antes de iniciar qualquer seleção de leituras, eu primeiro as leio previamente - é uma tolice tentar ensinar o que não se sabe - e delas extraio todas as palavras difíceis, que irão se tornar o vocabulário a ser aprendido pela classe. Cada estudante deverá ser capaz de pronunciá-las corretamente, utilizá-las e saber o significado de cada uma daquelas palavras, antes que comecem a leitura em classe. Não tem sentido partir direto para a leitura, se os estudantes não compreendem as palavras no material a ser lido. De outra forma, a leitura iria se tornar tediosa e incompreensível.

Em seguida, me refiro ao título da leitura, perguntando: “Sobre o que vocês imaginam que este texto trata?” - um processo que obtém informações sobre o título. Outras perguntas que podem ser feitas, precedendo a leitura, incluem: “Será esta é uma história sobre a perda?”,Uma boa consciência?” “Por que você(s) acha(m) isso?” – e a seguir, identifica-se o propósito da leitura daquela seleção. À medida que a leitura vai progredindo – esta deve ser feita em voz alta, nunca em silêncio – faço perguntas pertinentes, como: “O que você acha que vai acontecer?” pois o ato de prognosticar usa a lógica, a razão e a evidência, como forma a desenvolver as habilidades meta-cognitivas.

Os estudantes são então ensinados (estimulados) a examinar sua linha de raciocínio – “Que informação oriunda da leitura, embasa a sua resposta?” – o que ensina ao estudante, a importância das respostas baseadas em fatos, comparadas às interpretativas. Estes certamente irão melhorar seu desempenho nos testes padronizados, quando descobrirem como pensar tanto criticamente, quanto analiticamente. Provas normalmente não querem saber o que pensamos, elas medem apenas a correção das respostas factuais e com este método, os estudantes são ensinados a refrear conjecturas irracionais. O questionamento se torna um processo disciplinado, no qual cada estudante utiliza o grosso do conhecimento adquirido, dando evidencia à chegada de novas compreensões e vislumbres.

No método socrático, o professor controla o volume e o fluxo de informação. A compreensão tem lugar durante a leitura, em cada importante etapa e não ao fim de uma seleção. Este método encoraja a participação de todos os alunos, ao mesmo tempo em que reduz problemas disciplinares e eventualmente os elimina, completamente. Quando estudantes portam-se mal, indica que eles não desenvolveram o hábito de um correto raciocínio. Minha metodologia propõe-se a ensinar que escolhas têm conseqüências e eu uso disciplina, mas autodisciplina e não a punição para engajar o estudante no pensar correto. Na finalização deste processo de leitura, o professor deve intensificar gradativamente, a leitura de textos mais extensos, entre os períodos de parada, o que irá incrementar nos estudantes, sua habilidade de obter significado em longas leituras. Sempre pare em certos pontos do texto, para fazer perguntas, como por exemplo: “Por que você (o estudante) respondeu isso?” ou “Você consegue encontrar no texto, a frase ou parágrafo que sustenta a sua conclusão?”.

Os pontos de parada na leitura oral, devem ocorrer em lugares lógicos onde a história tem seus momentos de virada e também especialmente nas passagens altamente abstratas. Um mestre nunca deve se intimidar ante uma seleção de leituras mais difíceis ou trechos mais densos. A classe só se torna realmente boa, se o seu líder também o é! Sob controle de um professor, os momentos de parada nas abstrações permitem a realização de debates orais, refinamento de idéias e uso do vocabulário. Estas interrupções também provêm tempo para discussões, aumento das habilidades verbais e escritas, além do desenvolvimento do pensamento crítico.

Meu programa educacional não permite o estéril uso de trabalhos individuais, cronogramas abarrotados de atividades e livros de exercícios. Estas tão comumente chamadas ferramentas educacionais, não conectam idéias numa lógica através do processo. Elas não são capazes, nem podem ensinar às crianças, como ler ou como escrever. Partem da pressuposição que os participantes já sejam leitores independentes e que estejam imbuídos de habilidades críticas e analíticas, aptos a entender, sem a supervisão ou direcionamento, os pontos relevantes feitos pelo autor. Eu não uso cronogramas de atividades em minhas classes e eu não permito o seu uso por nenhum professor de minha escola.

Após completar a leitura dos textos selecionados, os alunos também devem escrever diariamente, cartas para os personagens dos textos lidos ou para o autor da obra, além comporem uma revisão crítica do que foi lido: “Com qual personagem mais se identificou?”, “Por quê?”, “O que o personagem o ensinou?”, “Que lição de vida, se houve alguma, aprendeu daquela leitura?”, “Por que aquela lição de vida é importante para ele?”. Aqui se percebe novamente, que livros de exercícios prontos e cronogramas de atividades pré-definidas nunca poderiam lhes permitir isto. Há uma diferença entre “estar ocupado trabalhando” e “estar refletindo sobre um trabalho”.

O método de ensino direto reforça as habilidades aprendidas em cada seleção lida. A criança é ensinada a usar o que foi aprendido anteriormente, como referência para embasar sua opinião. Estas referências podem vir de diversas fontes, como a poesia, os editoriais dos jornais, das revistas, dos grandes discursos, dos romances ou qualquer outro material impresso. Qualquer coisa, oriunda de qualquer lugar, é capaz de potencialmente prover um excelente material para o desenvolvimento das habilidades de raciocínio. Poderíamos comparar estas referências da mesma forma que um pedaço de papel representa as árvores, porque a madeira é processada até transformar-se em papel. Este mesmo pedaço de papel também representa a água que nutre a árvore, o lenhador que a cortou ou o caminhão que levou o tronco para processar na fábrica. Desta mesma forma, o ensino direto expande a mente além das duas capas de um livro e das quatro paredes de uma sala de aula. Livros textos com exercícios para completar espaços e métodos de padronização do aprendizado passo a passo nunca criam bons pensadores críticos. Há uma diferença entre ler palavras e compreendê-las. Há também uma enorme diferença entre saber ler e amar ler.

Minha metodologia de ensino tem a vantagem de estabelecer um ambiente em que se promove a obtenção da informação textual e conversacional, a construção de um vocabulário e de novos conceitos, a partilha e a expansão de idéias, obtendo a necessária atenção de todos os participantes. Com isto reduz-se a tendência de chutar respostas, além de ensinar o pensamento abstrato. O pensamento crítico envolve uma atitude geral de questionamento e suspensão do julgamento, criando o hábito de examinar antes de simplesmente aceitar. Professor e estudante passam então a buscar um mesmo objetivo - a partilha de conhecimento e informação. O ensino direto requer um novo comportamento por parte de ambos, professores e estudantes, o que implica em algum grau de mudança de atitude. Em minha longa carreira como mestre, eu aprendi que os benefícios valem este esforço. Uma vez que os professores tentem o método socrático ou método direto de ensino, eles nunca mais voltarão a qualquer coisa que não seja capaz de produzir esta “mágica” (no ensinar).

Marva Collins

(tradução de Lucio Abbondati Junior)

POR UM CURRÍCULO DE VIDA

Tive um amigo extraordinário.

Durante quase três décadas partilhamos nossos caminhos, sonhamos juntos, bebemos juntos, cantamos juntos. Partilhamos nossas descobertas e amores, as muitas dúvidas e algumas certezas, abrimos nossas mentes e almas e, inclusive, compartilhamos amigos.

Das inúmeras conversas, aprendemos a confiar a língua, a acolher os ouvidos, a compreender o olhar.

Tudo nele era sábio, porque manteve-se ao longo do tempo como curioso buscador, que apenas transigia, por amor, as limitações humanas, as incoerências dos queridos.

Gostava de cerveja quente, cantava mpb e era tremendamente habilidoso com as cordas do violão.

Coração e casa estavam sempre abertos, cada um era cada um, com suas histórias, dramas, felicidades. E assim seguiu amando a todos, julgando pouco, tentando ser feliz.

Não teve muitas posses, um apartamento de herança, livros, discos e o violão. Da profissão de psicólogo – claro, e o que mais seria ? – sustentava poucas contas, que às vezes, atrasavam.

Pouco ia ao cinema, ao teatro, então ..., não via televisão, nem sabia o que era moda ou caso passageiro de artista-celebração.

Gostava de estar com as pessoas, de com-versar, de ouvir os causos de cada um. Gostava de viajar, prá perto mesmo, que era o mais certo e melhor para entender os novos amigos que iria fazer. Não tinha computador, nunca entrou no orkut, mas sua rede de amigos era imbatível.

Partiu em 2001.

Disse-me que tinha muito trabalho a fazer do lado de lá e que seus compromissos aqui não faziam muito sentido. Voluntariou-se. Em seu período de coma transcedental os amigos reuniram-se, tantos, todos os dias, ansiosos, presentes, esperançosos de seu retorno, desejosos do seu ficar, resignados com seu partir.

Muitos não compreenderam aquela legião sempre presente, por dois meses, dedicando-se carinhosamente ao velho negro e pobre que deitado inerte, aguardava.

Para aqueles que não o conheceram, que não foram tocados por sua delicadeza, por seu estranho humor, por suas significâncias, para estes era mais um fracassado, quase um indigente.

Porém, para todos nós, ele foi e será sempre um objetivo. Sucesso total !

E o melhor, diria Chico, quanticamente, é que somos todos um e não há morte, só vida – eterno existir.

Lucia Vasconcellos Abbondati

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