segunda-feira, julho 24, 2006

DA ESPERANÇA E DA FALSA ESPERANÇA -------- (da série Pareceres)


Quando a Caixa de Pandora foi aberta e os males invadiram a humanidade,
dizem que restou em seu interior, num cantinho, bem escondida,
esta tal de Esperança.


Esperança que ocupa a boca de muita gente que espera e nada faz,
porque espera.


O que espera ?


Espera por algo ou por alguém que lhe tome no colo, proteja, abrigue,
que tome as rédeas de seu destino e que não lhe obrigue a fazer escolhas.
Tudo democraticamente, é claro!


Esperança que dizem ser a profissão do brasileiro, que espera e nunca alcança, que deseja e sonha deitado eternamente na Esperança.


Esperança falsa, mentirosa, que ilude, acovarda, acomoda.


Esperança de “grande pai”, de “salvador”, daquele que fará por nós, que
somos tão incapazes...


Durante muito tempo usamos Esperança como sinônimo de Fé – em outrem, dogmática e inatingível.


A Esperança venceu e nos deu “um presidente paz e amor” porque esquecemos de sua morada original – a caixa de todos os males – o que faz todo sentido.


Instigo a que troquemos a palavra para transformarmos o conceito, do eterno e inútil esperar da Esperança, para o ativo, premente e verdadeiro ato da Coragem.


Que Fé e Esperança sejam, de agora em diante – Coragem!


Assim, talvez, ainda possamos nesta encarnação vivenciarmos a diferença de um novo paradigma.

Lu Abbondati

domingo, julho 09, 2006

A CRIATIVIDADE E A INSANIDADE NORMAL

Para as pessoas que ainda desconhecem, a revista "VIDA SIMPLES" da Editora Abril é muito interessante e costuma trazer a baila, temas bastante atuais sobre a qualidade de vida.

No número 42, de junho de 2006, ela traz uma matéria de capa falando sobre a criatividade e a capacidade de incrementá-la (VOCÊ É ARTISTA), na qual tive o prazer de ser um dos colaboradores e entrevistado. Você pode lê-la na íntegra aqui, clicando no link a seguir: VOCÊ É ARTISTA

Ao longo de uma vida, a capacidade de ser criativo é sistematicamente soterrada ou acorrentada, até que maioria dos indivíduos acredite ser ela um dom divino relegada a poucos escolhidos. Um ledo engano.

Como característica da raça humana, todas as crianças fazem “arte”, tomando-se a palavra como uma metáfora para as escolhas que se desviam do padrão de reação habitual. Se para o adulto apanhar um biscoito numa prateleira alta só se aplica com o uso de uma escada ou cadeira, para a criança este simples problema suscita uma infinidade de possíveis respostas, que vão desde escalar a estante, empilhar os caríssimos livros para formar uma escada, derrubar a estante ou mesmo os biscoitos com uma vassoura, entre tantas outras possíveis soluções. Uma criança poderia formular dezenas de soluções para este problema tão simples: como comer o biscoito - o adulto, não. Este aprende a se contentar com a resposta mais adequada, que lhe disseram ser melhor. E não me refiro apenas a pegar o biscoito na estante.

Erra a criança ao pensar assim? Claro, diriam as pessoas – a cadeira ou a escada são soluções menos arriscadas mas, esquece-se a maioria, não são as únicas. A criança, na ignorância dos perigos ou do que foi considerado certo, não se furta a propor novas opções, coisa que os adultos descartam de imediato. O aprendizado de respostas consagradas não deveria suprimir a formulação de novas possibilidades, afinal, os tempos mudam e o que hoje pode ser a melhor solução, amanhã poderá ser uma rematada tolice (um dia a terra foi considerada plana pela grande maioria...)

Várias são as causas para a aniquilação da criatividade nos adultos, mas a abolição da interatividade no aprendizado, desvinculando-se a teoria da prática, certamente destaca-se das demais. O que se propõe basicamente no ensino, obedece a esta terrível cartilha:

  • Sufocar a curiosidade natural,
  • Aprender não o que se deseja, mas o que está previsto no programa,
  • Convencer-se de que para cada problema, só há uma única resposta válida, mesmo que não seja assim na vida,
  • Assimilar que regras são mais importantes que a prática,
  • E principalmente, aceitar tudo sem questionar, porque talvez um dia aquilo possa ser útil...

Resultado? Apenas mata o gênio que habita em cada um de nós. E um adulto assim formado, se comportará como algo bem próximo a isto:


APRENDIZADO PARA UMA INSANIDADE NORMAL


Ouvir, mas não falar.

Olhar, mas não tocar.

Valorizar apenas o que outros disseram.

Responder, mas o ensinado.

E só a resposta certa - uma única, para cada coisa.


Não propor alternativas,

não sugerir,

não opinar.

Questionar? Talvez, mas não divergir.

Calar.


Produzir, mas só o exigido.


Imaginar? Só depois, num momento que nunca chega...

Não inventar; não desviar do trajeto seguro.

Conformar-se. Não se revoltar.


Enlouquecer, mas só um pouco, todo dia.

Que fazer? Surtar?


A vida é assim; acontece com todo o mundo...


Até quando?

Até quando?


Até quando?

Lucio Abbondati Jr

POSTAGENS MAIS RECENTES        POSTAGENS MAIS ANTIGAS