sexta-feira, agosto 25, 2006

FAZ TODO O SENTIDO

Para avivar a percepção e o discernimento nos dias de hoje, aqui vão duas citações de uma pessoa realmente muito especial:


"Nossas vidas começam a findar, no dia que nos tornamos silenciosos sobre as coisas que importam"
"Our lives begin to end the day we become silent about things that matter"

"No fim, nós nos lembraremos não das palavras de nossos inimigos, mas do silêncio de nossos amigos"
"In the end, we will remember not the words of our enemies, but the silence of our friends"

Martin Luther King
(1929 - 1968)

sábado, agosto 19, 2006

O PODER OCULTO DO CINEMA

Quando ouço pessoas falando que o cinema irá morrer com o advento dos home theather e dos DVDs, me espanta a dimensão da ignorância humana.

Desde criança ouço um ditado que diz: “O cinema é a maior diversão”. Uma expressão tão válida quanto a limitada afirmação de que a principal função das escolas é retirar os jovens das ruas – explicação adequada a presídios e não a um local formador de seres humanos.

O problema é que em nossa sociedade, são definições como estas que determinam as condutas humanas e sendo assim, da mesma forma em que a escola acabou por se transformar em depósito e não em local de aprendizado, o cinema está se transformando num local de diversão, visto apenas como passatempo e que pode ser substituído com vantagens por um bom aparelho de DVD e um telão.

Acontece que não pode. Suas verdadeiras características não podem ser reproduzidas em uma sessão doméstica, como veremos a seguir.

Por incrível que pareça em sua história, o cinema continua sendo uma mídia de informação ainda não compreendida em sua totalidade, tanto pelo público quanto por aqueles que efetivamente o fazem. E desta desinformação, emergem conceituações estapafúrdias que, longe de contribuir para sua manutenção e continuidade, levam cada vez menos pessoas as salas de exibição, agravando mais ainda a absoluta ignorância de suas vantagens, com visível prejuízo social.

O meio cinematográfico é muito mais do que um mero passatempo ou parte de uma indústria de diversões caça-níqueis, como muitos detratores salivam ao afirmar.

Ele também passa ao largo de ser unicamente uma forma de arte, como querem fazer crer respeitados diretores e cineastas, que descambam para definições simplistas. Do alto de escassas imaginações, ouvi e li em vários depoimentos de profissionais do meio, absurdos inesquecíveis que podem ser sintetizados aqui, nestas duas frases:

- “O cinema não deve ser usado para contar histórias, é um meio com a única finalidade de se fazer arte. Aos que quiserem contar histórias, sugiro procurarem a TV!!!”

Através de uma opinião tão abalizada quanto limitada, depreende-se que para eles, o meio físico é o um dos principais determinantes da arte fílmica, senão o único e sendo assim, já que o cinema é arte e como arte não deve se curvar a ser inteligível, o cinema não deveria ser inteligível. Ponto! A TV não, esta é algo que prevê em seu “produto” uma palavrinha delicada para certo grupo de cineastas, um início, meio e fim, o que a baniria para sempre de ser um meio artístico...

Acontece que a arte não está no veículo ou na ferramenta utilizada e sim na competência do artista em manifestar sua intenção. Encontra-se nos olhos de quem faz e vê e não nos meios que emprega.

Comparar suportes físicos de características diversas como a TV e o Cinema, apenas por que ambos exibem filmes, é como considerar a escultura e a pintura, privilegiando uma sobre a outra, apenas por que ambas lidam com a imagem.

O veículo de uma imagem deveria indicar apenas como uma manifestação pode ser vista e não determinar sua qualidade. Nenhum meio é menor, apenas o pensamento limitado o faz assim, solapando a curiosidade e a capacidade de pensar novas soluções.

O cinema tem sim, certas características que a TV não pode duplicar, não importa o seu tamanho. E isto se prende a condições privilegiadas que o meio apresenta, as quais mesmo os produtores diretos não entendem ou se aproveitam. Vamos a elas:

  • Para ir ao cinema precisa-se sair de casa, o que implica intenção e escolha de um filme, descobrir onde este está passando, qual o horário adequado, dispor das condições materiais para pagar o ingresso, vestir-se, usar um meio de transporte para chegar ao cinema, comprar o ingresso (o que agrega um valor ao que vai ser visto) e etc.

Tudo isto para o cérebro, atua como um ativador automático de funções, semelhante ao que nos mobiliza em direção a um trabalho ou obrigação urgentes, exceto que neste caso, o fator atuante é o PRAZER, o que cria receptividade automática para o que será dito ou visto na tela. E tudo atua como novidade para os instrumentos de percepção corporal: o cheiro da sala de exibição, as acomodações físicas do lugar, o local aonde se sentar e as respectivas sensações táteis da poltrona, o encontro com outras pessoas e seus diferentes rostos, os diversos sabores dos confeitos, pipoca, refrigerantes, chocolates, encontrados na bomboniere e etc.

É um verdadeiro parque de diversões sensoriais para o cérebro! Estimula toda a sorte de sinapses que a casa, lugar mais que conhecido e sítio das rotinas domésticas, não pode substituir. Nossas lembranças se formam pela introdução de novos fatos através da área de memória recente e esta arquiva o relevante na área da memória antiga, mas apenas se estes diferem dos registros de rotina. E é por este motivo que muitas pessoas nem se recordam se trancaram ou não portas, trouxeram ou não celulares consigo, desligaram ou não as luzes da casa e etc. Rotinas já estabelecidas equivalem a ações automáticas, com ausência de pensamento por parte do cérebro, na sua execução. Uma vida repleta de rotinas poupa tempo na hora de fazer as coisas, mas também incapacita o indivíduo para lidar com o que ele não conhece – um problemão num mundo em transformação vertiginosa, onde situações novas surgem de forma inesperada a toda hora.

Sair de casa por vontade própria para exercer um prazer, é exercitar o cérebro no uso de sensações combinadas (tátil, visual, auditiva, olfativa, gustativa e decisória), o que se torna cada vez mais raro hoje em dia, num mundo de obrigações impostas que freqüentemente estabelecem rotinas a serem seguidas. Assistir um filme em casa, sentando no mesmo local que já se conhece, fazendo as mesmas coisas, com todas as sensações já familiares, é simplesmente não desfrutar do novo - um bom método para criar limo mental..

  • Não há home-theather que simule o fato de que se está longe da geladeira doméstica e daquela fome que aparece do nada...! Ou mesmo do confortável banheiro de casa! Quantos desligam o telefone, celular ou interfone, ao assistirem filmes em casa, para não interromper a sessão? Como prestar completa atenção na trama, sem ser requisitado por filhos, parentes, vizinhos e amigos a qualquer minuto? Como relaxar e deixar para trás o pensamento das contas e obrigações que deverão ser feitas amanhã ou logo depois do filme?

  • A tela do cinema e suas imagens gigantescas, preenchem todo o nosso campo de visão; a cadeira de espaldar alto nos acomoda e abraça; o frio do ar condicionado nos envolve; o som com efeito “surround” nos cerca de todos os lados, transmitindo não apenas impulsos auditivos, mas também tátil-sensoriais com vibrações de baixa freqüência. O escuro garante que nossa atenção não possa ser desviada por nada, pois NADA está visível a não ser a o que vem da tela, o que torna esta mensagem comparável a uma sessão de hipnose, com impacto determinante no teor da mensagem.

Por uma hora e meia, em média, o espectador entregar-se-á de corpo e alma a percepção do enredo, do contexto onde os personagens se inserem e para eles transferirá seus desejos e emoções. Nada pode ser mais eficiente que isso, como meio de recepção. Dizia Frank Capra, um dos poucos diretores que perceberam e utilizaram este potencial em toda a sua plenitude que, ao produzir cada filme, assumia a enorme responsabilidade de não esmagar a esperança de seus espectadores e, aproveitando-se das condições favorecidas acima, incumbia-se de entregar-lhes uma mensagem tão poderosa que estes poderiam sair dos cinemas com um potencial transformador bem inscrito em suas almas.

Este sim, é o verdadeiro poder do cinema – a transformação do espectador.

Uma vez que o cérebro não distingue experiências reais das simuladas, já que ambas entram através do mesmo sistema sensorial e produzem ação nos mesmos sítios cerebrais, fisgado pela mensagem que lhe chega da tela, ele não poderá esquivar-se a mudar seu estado de espírito. Filmes que fazem rir liberarão endorfina sem nenhuma dificuldade e alegrarão o espectador, mesmo que este esteja deprimido. Em contra-partida, um filme que solape suas crenças e valores, também poderão deixá-lo arrasado. Já aquele que o faça refletir, o tornará questionador e o que o encantar, o arrebatará. E tudo isto, lembremos, em uma hora e meia de mensagem ininterrupta, sem competição de qualquer tipo de interferência física, em uma sala totalmente escura, através de uma brilhante tela que ocupa todo o campo visual, com som chegando aos ouvidos sem obstáculos, enquanto o corpo vibra com baixas freqüências, transmitindo sensações táteis.

Isso é dinamite pura para o cérebro!!!

Para deprimidos, 90 minutos de uma comédia equivalem a uma dose reforçada de anti-depressivos. Para idosos e acomodados mentais, uma hora e meia de exercício concentrado num “spa” para o cérebro, ao preço de um ingresso; para crianças, encantamento puro e magia num mundo tão cru e para o adulto, uma permissão para a reflexão sobre uma enorme gama de temas, sem resistência dos preconceitos. Daí a importância de se perceber seu real potencial. Nas mãos de um bom artista, um filme construirá vidas, nas de um irresponsável, marcará o espectador com sua incompetência.

A medicina é uma das principais áreas que muito se beneficiaria se utilizasse mais a ida as salas de exibição como um recurso terapêutico regular. Como médico, muitas vezes faço a indicação de filmes como instrumento de reflexão e questionamento para as pessoas que precisam repensar a condição de vida em que se encontram, em pacientes em estado depressivo, nos déficits de memória e nos estágios iniciais do Mal de Alzheimer, com resultados surpreendentes.

Como recurso cultural, o cinema é extraordinariamente necessário em sua função de propiciar encantamento, alegria e emoção e no seu todo, extrapola e muito, a condição de ser um simples local para a exibição de filmes.

E algumas pessoas ainda acham que seria possível prescindir de um instrumento com este potencial... Elas deviam mesmo é ir mais ao cinema, para exercitar sua percepção e sensibilidade.

Lucio Abbondati Jr

terça-feira, agosto 15, 2006

PERGUNTE-SE !!!

“ Quando foi a última vez que você se permitiu fazer algo criativo com as mãos, apenas pelo prazer de contentar a si mesmo ? ”

Em sua resposta, desconsidere todas as tarefas rotineiras, sejam as domésticas, ligadas ao trabalho ou qualquer atividade útil ou obrigatória. Exclua também as que foram feitas em benefício de outros, sejam filhos, parentes, amigos ou conhecidos. Leve em conta apenas o que tenha sido criado por suas mãos (isso é muito importante !!!) e que o tenha deixado orgulhoso ou satisfeito com o resultado – ou seja - um troféu pessoal, que passou a existir porque você achou que o merecia.

E então, lembrou-se?

Para aqueles que não conseguiram se recordar de nada que tenham feito de criativo com as mãos há mais de seis meses, aqui vai um lembrete: recorde-se que você também já foi criança um dia e que inventar era a única coisa que você fazia, todo o tempo. Agora perceba de fato, que aquela criança não morreu!!! Só cresceu e está lendo este texto, neste exato momento!!

Toda criança experimenta continuamente e sem medo de errar, tornando-se por isso mesmo, tão criativa. Somos fruto das escolhas que fazemos e manifestações de criatividade são um ótimo exercício para reavivar a bagagem de aprendizado que o inventivo período infantil nos propiciou, tornando-nos adultos menos receosos, mais completos e equilibrados.

Experimente e veja por si mesmo!! (e conte a quem precisar)

Lucio Abbondati Jr

segunda-feira, agosto 14, 2006

O DESCONFORTO E A ANESTESIA

O desconforto em nossa sociedade sempre foi tratado como algo intolerável. É opinião corrente que este deve ser erradicado rapidamente, sendo discutível apenas o método que se emprega nesse sentido. O que não se questiona, equivocadamente em minha opinião, é o verdadeiro papel do desconforto no viver. No plano físico, ele cumpre uma função cristalina - desnudar o mau funcionamento do corpo, alertando seu dono para que este tome providências, a fim de restituir-lhe a normalidade.

Já quanto ao meio social, sempre que penso nele, recordo-me do porquê do homem ancestral ter pensado em abandonar a caverna onde morava. Ele o fez simplesmente, porque era escura, fria, úmida e principalmente, desconfortável. O desconforto sempre atuou como mola propulsora para o progresso humano.

No lidar com os incômodos ao longo de sua história, o homem de forma geral, tendeu a agir, posicionando-se pela eliminação dos fatores que tornaram sua vida miserável, corrigindo as falhas, a fim de progredir para um novo patamar do viver.

Muitas invenções foram desenvolvidas em virtude de sua existência, tais como a dos veículos para o transporte, de moradias mais confortáveis e de toda uma sorte de utilitários.

Muitos conflitos humanos também tiveram como origem o desconforto, seja moral ou físico, justificando uma ação enérgica a fim de serem resolvidos, tais como a escravidão em muitas sociedades, a derrubada de regimes tirânicos e a melhoria no viver indigno, com grandes ganhos sociais, que reverteram em benefícios de todos. A proposição de mudanças sociais sempre partiu da erradicação das causas e correção dos efeitos.

O século XX contudo, legou uma sutil mudança neste paradigma, mudança esta que vem se tornando progressiva. Durante o seu curso, encontrou-se uma nova forma de lidar com o desconforto, a fim de tornar palatável, o insuportável. Optou-se pela cômoda paliação das causas, a fim de impedir mudanças substanciais na sociedade.

Com uma boa dose de covardia e preguiçosa conveniência, optou-se por mascarar os problemas através de mecanismos doutrinários, dissociando-se causas e efeitos, na esperança de que os incômodos pudessem desaparecer por si mesmos. Esconder a sujeira debaixo do tapete passou a ser o objetivo principal e para isso adotou-se também um novo linguajar onde o indizível pudesse ser comentado, sem recordar as desconfortáveis causas.Em suma, propôs-se a supressão de efeitos sem tocar nas causas.

Daí derivaram os progressivos desenvolvimentos e a crescente utilização por parte da população, de medicamentos antidepressivos e analgésicos, dos cigarros, bebida e das demais drogas, sintéticas ou não, utilizadas em larga escala pelas pessoas para que pudessem continuar a conviver com o que as incomodassem ou temessem, abdicando de participar na solução ou nas mudanças que se fizessem necessárias. Tornamo-nos uma sociedade narcotizada - um povo que se anestesia, um pouco a cada dia.

Convenhamos: quem optaria por usar um entorpecente dos sentidos, seja qual for dos escolhidos ao lado, por que está vivendo maravilhosamente bem? Ninguém o faz por que quer se sentir mal, todos o fazem para se sentirem melhores do que estão e isso ocorre por que se está vivendo mal e busca-se tornar menos pior, a tortura que em que se transformou a vida.

Na escolha de um entorpecente da mente como opção recreativa, reside a confissão de que o mundo onde se habita já não é capaz de lhe apresentar alternativas satisfatórias e por isso mesmo, foge-se para outro. A morte neste lento suicídio acaba por se tornar uma benção, perto da vida que se leva. Na raiz de quem se engana com a alegria química todos os dias, está a admissão da impotência frente aos problemas que enfrenta. Mesmo entre os que se reúnem para se divertir bebendo com os amigos após o trabalho, o encontro é um mero motivo para que coletivamente entorpeçam por alguns momentos, o intolerável de suas vidas. Após a décima cerveja, não há a quem possam convencer de que o fazem para “degustar” a bebida – ela nem mais tem gosto. Bebem hoje e agora, por que amanhã será outro dia intolerável.

No passado, o desconforto já teria motivado mudanças e as causas seriam removidas – a revolução francesa ocorreu nestas condições. Neste presente entorpecido, contudo, o desconforto justificou apenas um gradativo aumento da anestesia geral, da degradação da ética, da inação e da decadência no comportamento e no progresso.

No lugar das mudanças, produziu-se conformidade, impotência e a aceitação do aviltamento, sem reação ou devida indignação.

Tornou-se praxe a alegação de ignorância, mesmo entre a intelectualidade, para justificar a negação ou recusa da reflexão que se traduziu no estupor e na tácita aceitação da lenta corrosão de toda o esqueleto e a tessitura social, sem questionamento.

E para tolerar o mal viver, aceitando o inaceitável, o indignante, o ultraje diário e a impotência, o povo se anestesia, um pouco mais a cada dia...

Lucio Abbondati Jr


sábado, agosto 05, 2006

JOGOS E O APRENDIZADO


Todos os que já sentaram em frente a um tabuleiro de WAR (o jogo RISK, na versão de uma companhia brasileira), após uma ou duas disputas, mesmo sem que tenham realmente tentado decorar o tabuleiro, saberão onde colocar suas peças. Madagascar, Otawa, Polônia, Vladivostok e tantos outros territórios do jogo, como num passe de mágica, tornam-se conhecidos e suas localizações, fáceis de identificar.

Tal assimilação de informação se dá devido ao fato de que, não havendo exigência na memorização, esta ocorre naturalmente no decorrer do prazeroso exercício de jogar. O mesmo acontece em jogos da memória que associam palavras de idiomas diferentes ou elementos correlatos, jogos de perguntas e respostas (trivias) ou que utilizam cálculos. Nosso cérebro, desafiado a competir no espírito do prazer, assimila qualquer informação através da interação, sem opor resistência.

Se tal fato é conhecido, por que então este recurso é tão pouco utilizado no ensino formal?

A resposta para essa pergunta, suspeito eu, passa exatamente pelo fato de que o brincar é prazeroso. “Se não impõe sacrifícios, não implica em esforços e pode ser feito voluntariamente sem que haja a necessidade de impor à força, então não deve ser tão educativo”. A ótica de que o sofrimento melhor educa a alma, impregna a tudo, inclusive aos métodos pedagógicos tradicionais. Salas de aula não costumam ser local de diversão, mesmo que isso possa cumprir o objetivo de ensinar. E as regras dizem que recreio é um período limitado ENTRE as aulas e não durante estas.

A interação, entretanto, permeia a tudo no século XXI. Jogos de tabuleiro, cartas, games de computador e videogames, RPGs e todo os outros mais variados tipos, encontram-se em toda parte, ocupando espaços nas TV, nos celulares, na internet, nos jornais e revistas e nas lojas, tanto para crianças quanto para adultos, numa profusão de variedades. Interações com os alunos, contudo, encontram-se fora da escola.

Até quando? O que será necessário para que os que detém o controle sobre as estruturas do ensino formal percebam a falência deste modelo, ante a toda a interatividade que as outras mídias propõem? Como fazê-los notar que o sistema do monólogo do professor para com o aluno fracassou retumbantemente, como meio de atração e curiosidade?

A escola já se encontra hoje no último lugar onde os alunos esperam obter um conhecimento válido para a vida. Afinal, o que eles poderiam esperar de um sistema onde a fonte de informações formal foi ultrapassada por todos os outros meios de obtenção do conhecimento? Muito pouco. Ouvi de um grupo de estudantes a simplística explicação de que o motivo de terem de estudar tantos anos nos colégios, residia apenas no ser aprovado no vestibular e que após a prova, aí sim é que aprenderiam alguma coisa válida. Intrigado com esse conceito estapafúrdio, indaguei se eles não viam uma possível utilidade no que aprendiam nos colégios, que pudesse ser empregado em suas vidas. Um deles me disse exatamente isso, ante o concordar de todos: - Onde alguém vai usar isso que ensinam em sala de aula? E para o quê? – um resultado bizarro da explicação mais utilizada em sala de aula para justificar o ensino de informações descontextualizadas:

- Vocês devem saber isso, por que um dia vai ser útil.

Faltou ao professor dizer: onde, quando, por que, como e de que forma isso será útil à vida daqueles alunos. Na falta da interatividade e experimentação com a informação ensinada, constrói-se um absurdo – obriga-se a aprender sem saber para quê. O resultado não podia ser outro.

Jogar e brincar são formas máximas de interação. Um urgente estudo da aplicabilidade dos jogos na educação deveria estar tendo hoje total prioridade, uma vez que como tudo no mundo evolui de forma significativa, o ensino, que é justamente o que forma o indivíduo para ocupar seu lugar na sociedade, ficou ainda relegado aos cânones do século XVIII, quando o modelo do professor falante e dos alunos calados ouvindo, foi estabelecido.

Brincar é experimentar com possibilidades, e possibilidades são o que geram chances de inovação. Uma sociedade que espera evoluir, deve dar chance a seus filhos de poderem aventar novas formas de viver.

(extraído de nosso blog-irmão Criador de Jogos)

Lucio Abbondati Jr

quinta-feira, agosto 03, 2006

O LIVRO - UM PORTAL PARA A IMAGINAÇÃO (Cuidado! Indicado apenas para os que ainda continuam habitados)

Todos os que amam os livros sentem aquela fantástica sensação sempre que entram numa livraria (aos que não sabem do que estou falando, meus pêsames...) – a de que há um mundo infinito a ser descoberto nos volumes ainda desconhecidos e que por trás de cada prateleira, há livros que escondem outros, que levarão a outros e outros, num labirinto infinito de lugares, épocas, fatos e personagens a explorar na “terra incognita.

Descobrir uma nova preciosidade para o ávido leitor é um chamado às compras! Um motivo para saciar o mais urgente clamor da natureza, a “curiosidade da alma”. Ainda mais se o livro em questão for aconselhado por alguém que já o leu e lhe deu bons argumentos com olhos de paixão e encantamento – e não há endosso mais poderoso que os olhos apaixonados de alguém que verteu os escritos de um autor no “esplendoroso technicolor de sua imaginação”.

Ler um livro, é alcançar de um pedestal mais alto, conhecer e desvendar o segredo das páginas fechadas, contido e selado pelo autor, atrás da capa. Quem já passou por isso sabe que estas imagens entranham até o fundo e incorporam-se para sempre no ser de cada indivíduo.

Para um ávido leitor, descobrir-se entre os que não leram uma obra discutida em um animado grupo, é o mergulhar num submundo do desconhecimento, da ausência do mistério, sem pistas das causas e motivações, ignorando personagens, segredos e razões da história.

Aqueles que já experimentaram na leitura, a liberdade nos vôos altos da imaginação nunca mais olharão a terra como seu meio natural, o céu agora é a sua estrada e sempre mais alto, sua altitude preferida.

Algumas pessoas contudo não lêem e até se orgulham disso. Conheci um político idiota, que até se vangloriou disso na TV. Entristeceu-me perceber a sua aparente incapacidade de verter as palavras em imagens, mas consolou-me lembrar que este é um céu provavelmente destinado apenas aos que conseguem desgrudar seus olhos do chão e olhar para o alto, uma capacidade provavelmente não disponível a todos.

A leitura de cada livro é uma experiência única e irreproduzível. Suspensa no tempo e no espaço, ela está presa historicamente ao momento e ao conhecimento que aquele leitor trouxer em sua bagagem prévia, com o qual fará a compreensão e o entendimento. Se relido posteriormente, mesmo assim este parecerá totalmente diferente a seus olhos de leitor. Ainda que a versão do texto permaneça a mesma, o indivíduo é que terá mudado – as vivências que este tenha passado entre a leitura anterior e a posterior se somarão na interpretação dos parágrafos e novos entendimentos se formarão dos conceitos em suas páginas. Não importa quantas vezes lido, um mesmo livro sempre se enriquecerá com as novas experiências vividas por seu leitor.

Ler é um sonhar acordado, graciosamente concedido pelo escritor, para o deleite da imaginação. Como um guia, ele aponta caminhos para que o leitor possa colori-los e povoá-los em sua mente, num trajeto limitado apenas pela liberdade e criatividade de cada um.

Lucio Abbondati Jr

quarta-feira, agosto 02, 2006

A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NA SOCIEDADE DO SÉCULO XXI - PALESTRA UFF - 28/07/2006

Gentilmente convidado pela Professora e Mestra Rejany Dominick, da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, no dia 28 de julho de 2006 tive o prazer de proferir a palestra “Paidia – A Importância do Lúdico na Sociedade do Séc. XXI”, no auditório Florestan Fernandes, da UFF, como parte das atividades inaugurais do Centro de Aprendizagens, Pesquisa e Extensão, com o lançamento do CABE (Cultura, Corpo, Arte e Brinquedo em Educação), pela Faculdade de Educação. Dividiram o “palco” comigo, as professoras Lucia Fidalgo, que nos contou uma linda história e Maria Lucia Cunha Lopes de Oliveira da Faculdade de Educação, com sua palestra “Artevida”.

O que mais chamou a minha atenção foi o fato de que já há em curso nestes centros acadêmicos, uma real e necessária mudança nos paradigmas do que é o verdadeiro sentido da educação, contemplando uma compreensão não linear de conceitos.

A receptividade do público as idéias de que a equivocada escola iluminista (centrada na visão de que o aprendizado visa apenas formar trabalhadores) perdeu sua validade e a possibilidade de vislumbrarmos grandes mudanças na forma de construir informação e conhecimento, me pareceu finalmente estar tornando-se um sólida realidade.

Como resquício deste aprendizado do século XVIII, ainda hoje em nossa sociedade, classificam-se as pessoas pelo ofício que exercem e este “rótulo” define todas as relações sociais e interpessoais.

Muitos em nossa sociedade ainda querem fazer crer que o ser humano pode e deve ser valorizado apenas pelo rendimento que puder obter no exercício de uma profissão. O valor de um indivíduo ainda é hoje quantificado pelo sucesso financeiro que este obtém em seu ofício, esquecendo-se que somos bem mais do que fazemos em nossos trabalhos.

Quantos são aqueles que ganham “rios de dinheiro” no exercício profissional diário, considerados como bem-sucedidos e que “torram” a maior parte do recebido nos consultórios médicos e nos medicamentos, para tolerar a péssima qualidade de vida que levam?

Quantos são os que “surtam” aos 40 anos, ao olharem para trás e perceberem que nada construíram em suas vidas de significativo, além do exercer de uma labuta diária, que além de vazia e intolerável, de nada serviu para que estes se sentissem realizados em suas vidas? E a que preço? A perda de relacionamentos efetivos e afetivos com esposas, filhos e amigos, a inexistência de um espaço pessoal significativo, do tempo de reflexão, do exercício da criatividade e da manifestação pessoal no dia a dia.

A inexistência de objetivos e metas pessoais parece permear todas as pessoas de nosso século, que quando indagadas sobre o que lhes dá prazer sequer sabem distinguir passatempos de realizações. A grande maioria nem lembra mais de seus talentos, nem de suas manifestações criativas, do exercício pessoal de sua criatividade, inerente a todas as crianças que um dia estes adultos já foram.

A desqualificação dos talentos pessoais e a destruição sistemática da utilização da imaginação e do exercício da criatividade nos colégios, é uma constante que a pedagogia iluminista legou a estas dezenas de gerações, com profundos reflexos em nossa sociedade atual. “A obrigação vem em primeiro lugar”, dizem os sábios de plantão e quando esta acabar, uma nova obrigação o estará esperando e outra sucessivamente, até que cada um esteja bem treinado em cumprir as ordens sem questionar sua validade ou pensar por si mesmo - um sistema robótico de programação.

A manifestação artística ficou relegada a uns poucos subversores da “máquina pedagógica”, que ousaram firmar o pé e continuar exercendo seus dons criativos, mesmo contra toda a grande resistência do meio social, doutrinado a ferro e fogo a considerar tais manifestações inúteis e pouco pragmáticas.

Esquece-se o meio social, de que as mudanças das quais a sociedade se nutre, provém exatamente destes subversores. Sem eles, estaríamos condenados a estagnação social e a perda de um necessário progresso nas relações sociais, na evolução tecnológica e no conhecimento.

O trabalho manual, depreciativamente rotulado como “artesanal”, tão desqualificado na comparação ao exercício intelectual, é confundido erroneamente como uma manifestação menor e não como uma expressão da criatividade pessoal. Aquele que o faz é inclusive tratado como alguém que não teve capacidade de arranjar uma boa ocupação em algum lugar. O fato leva o meio social a falsa impressão de que o uso das mãos como exercício de criatividade é uma demonstração indigna e pouco relevante. Com isso, são raras as pessoas que em seus momentos de privacidade pessoal, utilizem as mãos para o exercício de talentos ou a produção de manifestações criativas.

Entretanto, os cientistas contemporâneos ligados à pesquisa da cognição e da linguagem, sugerem hoje que a capacidade de expressão da inteligência humana, é essencialmente decorrente da utilização e especialização que nossos primatas ancestrais deram ao uso das mãos, tendo sido este o fator que nos diferenciou primordialmente dos outros animais. Tal fato parece bastante lógico, se lembrarmos que a área motora que compreende o uso dos polegares no encéfalo, é absolutamente gigantesca em relação a todas as outras, estabelecendo sinapses entre seu uso e todos os centros cerebrais a ela interligados. A atividade manual é o exercício prático do que o intelecto planeja, sendo portanto, sua extensão essencial. A teoria é ótima, mas a prática é quem a corrobora e lhe dá validade.

A extinção das cadeiras de artes ou música na maioria das escolas, onde o uso das mãos ganha diversidade e prática livre, revela-se agora um enorme contra-senso, profundamente lesivo ao desenvolvimento dos alunos. A ausência do exercício manual sob o comando combinado da imaginação e inteligência, poderá determinar o quão incapaz frente a vida, um ser humano poderá ser quando adulto e o quanto uma sociedade poderá estagnar na ausência do pensamento criador.

Foi enorme a minha satisfação ao verificar neste congresso, que o desvio adotado há quase trezentos anos rumo a imbelicilização humana começa agora a ser questionado e que novas possibilidades pedagógicas estão sendo vislumbradas nos horizontes daqueles que fazem da construção do conhecimento, o seu sacerdócio. Parabéns a todos os que querem restituir ao homem, o seu destino criador.

Lucio Abbondati Jr

terça-feira, agosto 01, 2006

P É R O L A S ...1 - A Sabedoria dos Contos de Fada

Nesta seção você encontrará trechos escolhidos de textos para inspirar e orientar uma reflexão mais profunda sobre diversos temas que fazem parte de nosso cotidiano. Boa leitura e aproveite !

Lu Abbondati

“Essencialmente acredito que é útil e fundamental para aqueles que mais conhecem e amam a criança apresentá-la às realidades mais complexas da vida. Por exemplo, ouvimos pais dizerem:” Bem, não sei se devo contar ao meu filho coisas sérias. Não sei se devo falar de morte, doença, ódio ou guerra “. É claro que se deve contar aos filhos tanto histórias feias quanto bonitas. Toda criança deve receber o mapa e o treinamento para penetrar as florestas claras e sombrias do mundo. Omitir que há violências, más opções e grandes paixões que subjugam a mente, e não ensinar à criança como proteger sua alma, a enfraquece.”

“É preciso ser dotado de certo tipo de mente criativa, espiritualizada, desejosa de aprender, crescer e se desenvolver constantemente para entender uma idéia ou um ideal em profundidade. Eu diria que quando se lêem histórias para crianças, nossos filhos estão aprendendo em um nível e nós em outro. Adoro imaginar adultos lendo histórias para si mesmos.”

“...E é o pensamento simbólico - a capacidade de imaginar níveis de significação ligados a um único motivo ou idéia – que nos permite inventar, inovar e produzir idéias originais, com resultados muitas vezes surpreendentes. Se a linguagem dos símbolos é a língua materna da vida criativa, então as histórias são o seu veio principal.”

Contos dos Irmãos Grimm
Dra. Clarissa Pinkola Estés
(de "Mulheres que Correm com os Lobos" – imperdível !)
Editora Rocco

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