quarta-feira, maio 31, 2006

COMO NÃO FUI EU QUE FIZ ?

Milton Nascimento é um dos meus músicos preferidos, sensível, delicado, observador. Em uma de suas canções diz, "Como não fui eu que fiz?" (Certas Canções - Milton Nascimento/Tunai), abismado por reconhecer em outro trabalho, um reflexo seu. Musicalidade que poderia ser sua, composição que poderia ser sua. Sinto-me assim, muitas vezes, aos domingos pela manhã, faça chuva, faça sol, ao ler as crônicas de Martha Medeiros. “Como não fui eu que fiz?”.

Me revitaliza, inquieta, alimenta como todo bom texto cujas palavras, cada uma delas, fortalece a outra, cheias de significado, plenas de valor. Os temas cotidianos são os mais prazerosos, já que tenho uma ligeira queda pelas coisas simples, triviais, que quase sempre passam despercebidas. As árvores floridas de amarelo, esquecidas entre os prédios, ônibus, barulhos e sinais indicam o mês do ano e, às vezes, me enganam. Os sentimentos também me encantam. A emoção de ouvir histórias de outros tempos, contadas por avós que por momentos voltam a pular corda, a se enfeitar para um primeiro encontro, a suar de prazer. Como são maravilhosas as emoções de sempre, vivenciadas de tantas maneiras diferentes, tão iguais, absolutamente únicas.

Ler Martha Medeiros é assim, tão comum e totalmente ímpar. Meu deleite é partilhado com os filhos e o marido, que se emocionam com minha emoção e já aguardam os domingos, ansiosos como eu.

Leiam Martha Medeiros. Deixem-se invadir por suas palavras. Arrisquem-se a apreciar mais a vida, a ter menos certezas, a flertar com a dúvida.

Leiam Martha Medeiros. Ela é um excelente caminho de reflexão

Martha Medeiros escreve para a REVISTA, de O GLOBO, aos domingos.
E-mails para contato são:

cartasrevistaoglobo@oglobo.com.br
martha.medeiros@oglobo.com.br

Lu Abbondati

terça-feira, maio 30, 2006

ONDE A EDUCAÇÃO ATUAL ERRA


Há uma frase de Neil Postman, educador, sobre a qual deveríamos refletir:



"Quando
as crianças vão para as escolas, são pontos de interrogação; quando saem, são frases feitas".
Neil Postman (1931-2003)


Ela suscita quatro questões urgentes:

  • Era este o papel que nossas escolas deveriam desempenhar?

  • Seria essa a verdadeira função do professor?

  • É isso que queremos para nossos filhos ou para o papel que estes desempenharão no futuro?

  • O que poderíamos fazer a respeito, para mudar esse estado de coisas?
Pergunte-se você também e então aja, afinal, o futuro começa com o que fazemos no presente.

Lucio Abbondati Jr

segunda-feira, maio 29, 2006

PARA BUSCADORES

O filme-documentário “Quem Somos Nós?” que acabou de chegar nas locadoras em DVD, vem desde seu modesto lançamento nas salas de exibição, causando furor, polêmica, dúvida e reflexão. A divulgação boca-a-boca, a exibição para pequenos grupos, entre amigos, acompanhada de debates – viva a internet ! – gerou a melhor campanha de marketing que uma produtora pode desejar. Gente inteligente, inquieta, curiosa, discutindo, buscando mais informações sobre o tema e claro, falando, falando, falando.

Explicar física quântica para leigos não é fácil, mas os criadores de “Quem Somos Nós?” conseguiram um misto de filme bem humorado, com animação de primeira e especialistas diversos falando sobre ciência, cotidiano, espiritualidade, drogas, funcionamento do corpo, da mente e da alma, tudo isso de forma compreensível, o que é, no mínimo, uma façanha brilhante.

Dentre as muitas questões apresentadas, aprecio uma que explica o seguinte: “No cérebro a área que recolhe as vivências cotidianas e todas as emoções envolvidas é a mesma de quando imaginamos ou lembramos aquelas vivências.” Ou seja, nosso cérebro não diferencia realidade de ficção, memória ou imaginação. Em qualquer uma destas situações a mesma área do cérebro é ativada. Pensando nisso venho fazendo minhas próprias indagações e buscando respostas acabo encontrando novas perguntas. Hoje assimilamos a violência como algo absolutamente normal, resultado de vários tipos de discriminação, fatores econômicos, políticos e sociais, ausência de educação adequada e mil outras deficiências de nosso capitalismo moderno. Éééé, nosso sapinho está morrendo cozido há tempos! Entretanto, reconhecendo todas estas mazelas como verdadeiras e acrescentando este novo conhecimento trazido pela física quântica, vale pensar – se nosso cérebro não diferencia realidade vivida da ficção, será que todos os filmes, desenhos animados, documentários, gibis etc., que abordam de alguma forma a violência, são registrados como reais? Pense bem, estamos vivenciando, consumindo, assimilando aquelas imagens quando assistimos a um programa na tv ou na telona do cinema !? Ou quando imaginamos em uma leitura de suspense, policial ou drama a cena que estamos lendo e transformamos as letras em imagem no cérebro, será que nossa mente não distingue que aquilo não é real, embora suscite em cada um de nós uma série de emoções fortes ? Será que as situações de violência “normais”, “comuns”, não se tornaram absolutamente banais justamente porque estamos saturados pelos mais diversos crimes, pela corrupção de todo dia, pela ausência de valores elevados de convivência além do espelho de todas as mídias que consumimos ferozmente a cada momento ? Se nossos cérebros não distinguem cenas de violência, dor, morte, perdas em filmes – por exemplo, Predador, Matrix, O Albergue, O Iluminado, Cabo do Medo, A escolha de Sofia, todos os filmes de guerra... – e tudo fica registrado e conectado como real, torna-se possível compreender todas as fobias ligadas ao medo, ao terror. Lembram-se da Síndrome do Pânico, doença urbana “nascida” no fim do século XX? Pois agora ela faz muito mais sentido: medo real + medo fictício = mais medo real, pavor, horror, pânico.

E aí, como ficamos ?

Presto cada vez mais atenção naquilo que assimilo na tv, jornais, livros, internet e todas as mídias para me contaminar o mínimo possível. Não deixei de ver filmes de ficção – V de Vingança, por exemplo, é imperdível ! – mas lembro ao meu cérebro repetidas vezes que é ficção, aquilo não existe, é de mentirinha. Talvez ajude, não sei. Mas coloco esta questão para todos pensarem. O que estamos criando em nossas mentes torna-se realidade para nós. Precisamos de muito cuidado, de muita atenção para não criarmos, de verdade, os vilões e monstros da ficção. E não estou dizendo que vamos criar um Hanníbal com a cara do Anthony Hopkins , mas com a energia e o conceito do personagem...

Tem muito, muito mais em “Quem Somos Nós?” que embora pareça ficção, sei que é a mais pura realidade.

Obs: peguem o DVD na locadora e assistam também as entrevistas e o making-off que são excelentes.

Lu Abbondati

sexta-feira, abril 21, 2006

PROJETO CAVALO DE TRÓIA

Em 1989 nascia o Além da Imaginação, um centro cultural muito incomum; diferente de outros em muitos sentidos. Baseado nas idéias pregadas por Monteiro Lobato, o qual considero um de meus mentores intelectuais, o Além foi delineado para ser uma “Casa de Saber”, uma idéia pregada por Lobato em seu livro (se não me falha a memória) “O poço do Visconde”, onde Pedrinho, Narizinho e Dona Benta discutem o que fazer com todo o dinheiro obtido na exploração do petróleo. As Casas de Saber seriam lugares onde as pessoas entrariam sem obrigação, para descobrirem o mundo e o porquê das coisas, por puro interesse em aprender ou curiosidade. Deveria ser um lugar para conversas ao pé do ouvido ou em grupo, debates e troca de idéias, cercados de livros, revistas e histórias. Um pouco de tudo deveria estar ali e para ali deveriam convergir todos os saberes, para serem devolvidos através da troca entre os participantes; uma idéia precursora da atual internet, com seus interlinks, chats, troca de imagens, trabalhos e exibição de manifestações culturais as mais variadas.

Mesmo com essa premissa tão “cultural”, o Além era diferente num sentido muito abrangente. Não se respirava lá aquele ar de - Shhhhhh!!! Não faça barulho!!, Não toque!, Não Corra!!, Não Grite (não se entusiasme demais)!

Os livros que lá se encontravam à disposição do público chamavam a atenção pela variedade altamente incomum. Em proporções quase equilibradas, nacionais e estrangeiros conviviam em harmonia, com assuntos que iam de história até a arte, de seriados de TV novelizados aos autores de ficção científica, de fantasia medieval às obras de autores eruditos, de ufologia a arqueologia, obras de medicina a livros de mistério.

E eles não estavam sozinhos. Faziam-lhes companhia os quadrinhos para adultos e adolescentes, numa época onde os quadrinhos ainda eram associados à perda de tempo e leitura barata para crianças. Neil Gaiman, Alan Moore, Herge, Bilal, Edgard R. Burroughs, Carl Barks, Eisner, entre outros tantos, divergiam sem a menor cerimônia de seus críticos.

Em sua companhia, vídeos, a maioria dos quais poder-se-ia classificar docemente de “incomuns”: seriados de TV que não se exibiam mais na televisão, mas que contavam com fãs cativos, vídeos de aventura, suspense e ficção ou na menos preconceituosa mas ainda excludente categoria, vídeos “cult” – aqueles que hoje conhecemos como “director´s cut”, que não chegaram aos cinemas como pretendia seu diretor. Era uma videoteca heterogênea, que propiciava grandes e interessantes discussões, numa época sem internet, sem TVs à cabo ou satélite.

E os jogos? Uma brinquedoteca diferente também fazia parte do local. Adolescentes e adultos eram os principais alvos. Mais de 400 jogos, entre tabuleiros e RPGs, de várias nacionalidades, estimulavam a leitura e a simulação de situações. Quantos novos leitores os RPGs formaram, pesquisadores da história e dos mais variados povos e hábitos?

Eventos, exposições, mostras, debates, festas temáticas, disputas acaloradas, conversas no fim da tarde, ponto de encontro dos criadores e suas criações completavam aquele lugar.

Foi nesse ambiente que nasceu o “Cavalo de Tróia”. Poucos foram os críticos de carteirinha, daqueles tradicionais, que conseguiram enxergar o que aquele centro cultural era, que se mostrava, inteiro, pleno de vida. Por fora, pura diversão, por dentro, puro estímulo à curiosidade, imaginação e criação. Um lugar onde um criador encontrasse guarida e seu trabalho fosse respeitado por outros, que vendo o que alguém criara, estimulado ficaria a fazer o mesmo.

Lucia e eu uma vez, quando perguntados sobre como se deveria considerar aquele prazeroso lugar de diversão cultural (cultura divertida, que sacrilégio não?), comentamos em resposta que enquanto aquele lugar fosse considerado apenas diversão, não incomodaríamos ninguém do establishment. O perigo seria se descobrissem que embaixo de todo aquele lugar de diversão e prazer, havia um conteúdo realmente cultural, que agregaria aos freqüentadores uma visão crítica anti-segregante, real sentido da manifestação pessoal, com a conseqüente quebra dos padrões pré-concebidos. Era um verdadeiro cavalo de tróia, atuando contra as muralhas da acomodação à rotina, o pensamento conformista e sem horizontes, instando todos a encontrar seus próprios caminhos. E assim nasceu o PROJETO CAVALO DE TRÓIA, um visão de como entregar cultura e conhecimento através da participação socrática no diálogo, com prazer e satisfação, estimulando a curiosidade e a continuidade da busca, em todos os participantes e aqueles a quem estes estivessem ligados.

Os adolescentes cresceram e viraram adultos, pais, empresários, profissionais, sonhadores e realizadores. E os adultos que lá estiveram encontraram sua própria sabedoria e rumo e agora passam-na para seus filhos.

A jornada continuou, os muros caíram e o lugar transmutou-se, tornando-se imaterial. E não poderia ser diferente, cumpriu sua função para aquela época, em 1997.

Em seu lugar hoje, 2006, há computadores pessoais que fazem tudo, a internet com suas áreas de busca, comunidades, messengers, troca de arquivos e rede de contatos; as TVs a cabo, que entregam todo o mundo nas casas das pessoas em tempo real (inclusive os velhos filmes que eram vistos no Além), as livrarias virtuais que despacham qualquer coisa, para qualquer lugar, por rede ou telefone.

Tudo se foi daquela idéia? Não. Continua o projeto “Cavalo de Tróia”, agora mais necessário que nunca, a derrubar os muros da falta de imaginação, criatividade, ignorância e ausência de alternativas, utilizando todas as atuais ferramentas disponíveis, mesmo aquelas que as pessoas ainda não descobriram sua real potencialidade, para através do prazer, encontrar as utilidades e usos para os conhecimentos que emergem todos os dias, vertendo-os em novas possibilidades.

Lucio Abbondati Jr

V DE VINGANÇA

De tempos em tempos o cinema nos entrega alguma obra com méritos a serem comentados, endossados e aconselhados. Recentemente, a Warner Bros nos premiou com uma delas – o filme V de Vingança (V for Vendetta). É um filme que convida a ser visto mais de uma vez pelo espectador, tamanho o impacto que suscita.

Baseado no quadrinho de Alan Moore de 1992, a mensagem do filme é atemporal, não se prendendo a um lugar específico geograficamente, que tanto pode ser a Inglaterra, os Estados Unidos ou mesmo o Brasil de hoje. No filme, dois lados se opõem: um governo que controla a mídia e informação impondo seu poder ao povo à força e o povo, que sofre sua ação calado, descrente que possa mudar alguma coisa.

Como mensagem alegórica contra o controle que os agentes do estado exercem sobre o povo, tem como mote principal a frase:

As pessoas não deviam temer seus governos; os governos é que deviam temer seu povo.

O personagem principal da trama denomina-se V e ele mantém seu anonimato atrás de uma máscara de Guy Faulkes, figura histórica da Inglaterra que em 1605 tentou explodir o parlamento. Através deste artifício, o personagem convida a todos os espectadores a também “vestirem” a máscara e assumir sua persona, contra aqueles que traíram o compromisso assumido com o povo.

V não é um terrorista e sim um justiceiro que se insurge contra um mau governo. Terroristas atacam inocentes e no filme não há inocentes entre os que sofrem sua ação.

O que ele propõe realmente é o verdadeiro significado da palavra ANARQUIA, tomando-se a palavra por sua real semântica: an = negação + arquia = governo (do grego "archon", governante)

Longe de propor a baderna e o terror como a mídia erroneamente tratou o tema do filme, o personagem propõe uma reflexão sobre a questão: precisa-se mesmo de um governo que prive o povo de sua liberdade pela imposição da força, sufocando-o com ações e custos exorbitantes, sem que nada devolva em serviços - segurança, educação, empregos, dignidade, direitos civis e etc?

Ele sugere que o poder e a responsabilidade, devem recair sobre cada cidadão e seus atos e não ser delegado a um só indivíduo que chegue ao cargo maior, com poderes e direitos ilimitados. O poder absoluto corrompe absolutamente.

Em certo momento do filme, V nos relembra que a culpa da existência dos maus governantes permanece sempre nas costas de quem os elege – o povo - que se cala, aceita e endossa pela imobilidade o seu mau desempenho, abstendo-se de “demiti-lo” o mais rápido possível.

Recorde-se e se pergunte: O seu escolhido da última eleição cumpriu o que havia prometido? Beneficiou o povo igualmente ou apenas um seleto grupo de “parceiros muito chegados”?

Admitir que se errou na escolha é sempre difícil, mas necessário para se chegar à verdadeira maturidade. Aquele que é ético não nega o erro, aprende com ele e na próxima vez, escolhe melhor. Ele não anula seu voto e se conforma covardemente com o desastre.

Ele se vinga do mau governante com o V, o Voto de Vingança.

O filme é uma obra importante e que leva a uma profunda reflexão sobre até que ponto pode-se tolerar a impunidade de um mau governo ou seu desgoverno.

Lucio Abbondati Jr

QUANDO DEMOCRACIA É MAIS DO QUE UMA PALAVRA

Muito se ouve e se discute conceitos de liberdade, de ética, de respeito às diferenças e, certamente, democracia é um desses conceitos que de tão público e instaurado, às vezes é mais fácil definir do que, evidentemente, vivenciar.

Aconteceu certa vez no Além da Imaginação, um episódio marcante. Foi logo quando Lucio e eu abrimos o espaço, talvez dois meses depois. O Além era um lugar múltiplo por natureza e por isso mesmo, atraia para seu convívio o mais diverso tipo de gente, gostos e idades.

No início da tarde a sala ainda estava vazia e recebi a visita de um rapaz dos seus, mais ou menos 14, 15 anos. Cabelo bem curto tipo militar, calça comprida e camisa social, sapatos de verniz engraxados – o que chamou muito a minha ateão, pois fugia do uniforme padrão da garotada: camiseta, jeans e tênis.

Chegou devagar, meio desconfiado, observou o espaço, verificou os títulos dos livros, as HQ`s, os jogos e parou no balcão onde ficavam os fanzines expostos para venda. Mexeu em um, em outro e aí chegou perto de mim e educadamente quis saber qual era o procedimento para ele deixar seus fanzines para vender. Expliquei que eles ficavam expostos, que o sistema era de consignação, ou seja, ele receberia pelo que vendesse; nós colocávamos um pequeno percentual sobre o valor dele e a cada mês, na data marcada, realizávamos o acerto do pagamento. Ele concordou e então tirou do envelope pardo que carregava sob o braço, um maço de folhas xerocadas em preto e branco e grampeadas, características inconfundíveis dos fanzines.

Os fanzines são como um jornal no qual seus autores escrevem, compilam, montam, desenham, opinam sobre seus temas prediletos e apaixonantes. Assim, muitos são sobre televisão e cinema, poesia e livros, artistas diversos, histórias em quadrinhos e o que mais os jovens quiserem expressar. Sim, os fanzines são um tipo de mídia quase que exclusiva de adolescentes e jovens e nós, no Além da Imaginação, mantínhamos um espaço cativo para a circulação deste veículo de informação.

Ele me entregou um exemplar e, naquele momento, fui testada sobre o tal conceito de democracia, liberdade de expressão e que tais.

Logo na primeira página, estampado em preto havia uma cruz suástica e, mais abaixo uma reprodução de Hitler discursando.

A cabeça deu pane! Depois de tudo que sabemos sobre a guerra, o terceiro reich, as atrocidades dos campos de concentração, a perseguição dos inocentes, dos diferentes, o massacre de milhões como, por Deus, como ainda tinha gente que não rejeitava tamanha tirania? Em que meio vivia aquele garoto, para estar entranhado por tais enganos ?

Meu assombro era visível e o rapaz, comentando que já sabia que não haveria espaço para seu trabalho ali, ia guardando o fanzine quando eu o detive. Pensei em Voltaire que dizia “posso não concordar com uma só palavra do que dizeis, mas lutarei até o fim para que tenhais o direito de dizê-las”. Fiquei com meia dúzia de exemplares mas alertei-o que o público que freqüentava o Além não compraria sua mensagem. Entretanto ela estaria exposta e que daqui há um mês, ele voltasse. Se nada tivesse sido vendido, ele retiraria o material definitivamente.

Durante aquele mês recebemos todos os tipos de reclamações indignadas, das queixas mais simples aos brados mais veementes, de que era um absurdo intolerável fazer propaganda nazista. Para todos eu lembrava a frase de Voltaire, porque na verdade, minha recusa em expor aquele fanzine seria mera censura, ato autoritário, negação de uma realidade – terrível, é bem verdade! - na qual ainda existem nazistas. Pessoas que se sentem superiores as outras e que defendem todos os benefícios sociais, legais e humanos apenas para si mesmos, em detrimento de todo o resto !

Sou pela verdade. “A verdade vos libertará” está escrito em algum lugar e eu compartilho a verdade por mais dolorosa que possa ser, pois só quando encaramos nossos medos, nossos monstros, quando resolvemos conhecer e enfrentar os obstáculos é que realizamos a jornada do herói, o caminho do auto-conhecimento, nossos passos para a iluminação .

Lucio é um democrata vibrante em cada célula de sua existência, por isso ficou ao meu lado, incondicionalmente, e pontificou com seu imenso conhecimento debates acalorados sobre o totalitarismo em todas as suas manifestações. De fato,foi um mês muito rico em discussões, leituras, reflexões sobre esse tema que nos esquenta as vísceras.

O tempo sabiamente se fez presente e o mês acabou.

O rapaz voltou na data marcada, pontualmente, com seu cabelo curtinho, seu uniforme particular e o envelope pardo em baixo do braço. Cumprimentou-me formalmente, foi até a estante dos fanzines, contou-os – estavam todos lá – guardou-os, agradeceu e partiu. Nunca mais voltou. Não soube mais dele ou da mensagem que desejava divulgar.

Marcou-me profundamente sua presença rígida, séria, angustiadamente silenciosa.

Isso aconteceu em meados de 1989. Hoje aquele rapaz é um homem. Imagino como será, por onde andará, o que pensa e como age aquele jovem, hoje.

E escrevo sobre este fato só para lembrar como pode ser difícil mantermos nossos ideais, nossos conceitos e valores, quando colocados à prova. Ele, em seu engano, foi colocado à prova e submeteu-se a ela. Eu, em minha coerência, também fui colocada à prova e também me submeti a ela. É claro que para quem pensa como ele, a equivocada sou eu e tenho dúvidas se teriam a mesma compreensiva tolerância que tive. Talvez não. Talvez sim.

Democracia talvez não seja mesmo tão simples assim.

Que tal refletirmos mais profundamente sobre isso ?

Lu Abbondati

BRINQUEDOS PARA ADULTOS

Jogos e brinquedos são mais do que uma mera diversão. Assim como a comida é mais do que apenas um combustível para o corpo (quantas pessoas você conhece que comem qualquer coisa, só porque o corpo necessita?), jogos e brinquedos são simulações de situações; uma forma de testar na prática a velha máxima do "e se acontecesse dessa forma?". Jogos e brinquedos são receitas para saborear possibilidades.

O brincar é prazeroso, claro! Mas isso o torna menos valioso como instrumento de aprendizagem, experiência e treinamento para o viver e para as situações não aprendidas na vida? É óbvio que não.


Jogos e brinquedos talvez sejam a última forma segura de imaginar possibilidades, acrescentando experiência aos participantes da brincadeira, sem necessariamente expô-los aos riscos da situação real.

A maioria dos adultos encara o brincar como uma etapa de vida indissoluvelmente ligada ao período da infância; como se agregar experiência através de simulações fosse útil apenas nos primeiros estágios da vida - nada mais errôneo de se pensar.

Dizia Albert Einstein, que a imaginação é mais importante que o conhecimento - brincar é exercitar exatamente esta função do cérebro, que paulatinamente é instada a ficar domada, encarcerada nas prisões da razão.

"Não perca tempo imaginando coisas!" dizem aqueles que já não são mais capazes de utilizar seu cérebro para delinear novas soluções. Caia nessa e você, adulto, também se tornará apenas mais um "mutilado", frente a um problema qualquer de sua vida, para o qual os mestres de plantão não ensinaram a solução. Imaginar é, portanto, solução. E tal como nas academias, se não "malhar" muito, os músculos não respondem!!


Por isso, gostaria aqui de acrescentar novas definições nos dicionários para estas duas palavrinhas - brincar e brinquedo - já que entre as definições que lá constam, a maioria descreve, erroneamente, hábitos perniciosos:


  • Brincar (verbo) - Exercitar a imaginação e a superação de obstáculos através da tentativa e erro, tal como acontece na vida, só que de forma prazerosa e sem riscos, aprendendo sem esforço.
  • Brinquedo /ê/ s.m. - simulador de situações reais, hipotéticas, imaginárias ou aleatórias.


Medite um pouco sobre isso.

Agora vá a prática! Procure uma loja de brinquedos - lá certamente há algo para exercitar em você, a fantástica imaginação que você tinha quando ainda se considerava criança. Ela lhe poderá ser muito útil hoje, no adulto, treinando-o prazerosamente para resolver problemas.

No mínimo, fará de você alguém mais completo e bem humorado. E de adultos irritados e sem perspectivas, até você já deve estar cheio...
Lucio Abbondati Jr

PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALAMOS... DO ALÉM DA IMAGINAÇÃO

“Ai, que saudades do Além!”...

Esta é a frase que sempre ouvimos quando encontramos algum “filho do Além” perdido por aí. Claro que a frase é seguida por um longo suspiro e um olhar distante e isso certamente nos deixa, a mim e a Lucio, muito felizes. Assim sabemos que todo aquele trabalho, aquele sonho chamado Além da Imaginação valeu a pena, teve seu tempo e marcou, carinhosamente, a vida de muitos que por ali passaram suas tardes jogando RPG, assistindo aos filmes e seriados de TV que exibíamos sempre, lendo gibi, participando de algum curso ou evento de tarot, conversando, enfim, vivenciando um espaço único, criativo, inteligente e acima de tudo, democrático. As mais diferentes tribos se encontravam no Além e mesmo quando alguém se estranhava, rapidamente era envolvido em outra atividade e quase sempre tudo dava certo. Foram memoráveis as Festas Anuais de Jornada nas Estrelas, bem como os aniversários do Além, sempre com alguma novidade: dança, música, esquetes teatrais, brincadeiras, sorteios, gincanas...

Ai, que saudades do Além!

Foram sete anos de muitas atividades e uma profusão de novos conhecimentos, de pessoas importantes e especiais – cada uma do seu jeito – de uma riqueza ímpar como experiência cultural e humana. Tanto é, que já estamos Lucio e eu, tirando da abstração a idéia de colocarmos em livro esta fantástica realização. Estamos começando a analisar todo o material – que é muito – registrado dos eventos, das pessoas, dos projetos para dinamizá-los em uma estrutura literária. Passar adiante sete anos bem vividos de uma efervescência lúdico-cultural sem comparação na cidade de Niterói. Quiçá no estado, no país, no mundo! (menos, Lucia, menos...) Ok! Está certo, mas a verdade é que estamos aqui, filhos do Além, marcados eternamente por aquela vivência, e a maioria com certeza mantêm na lembrança boas recordações e histórias para contar aos filhos, já que os jovens de 1989, 90 e 91 hoje são pais, são profissionais que de vez em quando suspiram profundamente e dizem “Que saudades do Além!”.

Lu Abbondati

USANDO A FÍSICA QUÂNTICA

Do filme “Quem somos nós?” - What do bleep we know?, algo absolutamente necessário à formação de uma verdadeira consciência da realidade (leia mais em "Para Buscadores"), eu retirei a fala que reproduzo aqui, do Dr. Joe Dispenza - Doutor em Medicina Quiroprática na Life University, em Atlanta, Geórgia; Pós-graduado em anatomia e fisiologia, neuro-química, neuro-fisiologia e genética. Ele estudou física quântica e escreveu vários livros sobre o assunto. São dele as palavras abaixo, com os termos do pacto que faz todos os dias quando acorda, definindo e alterando a realidade, como deseja que ocorra:


...Se estou consciente desenhando meu destino,
se do ponto de vista espiritual estou conscientemente
aceitando a idéia de que nossos pensamentos podem afetar nossa realidade
e assim nossa vida, pois a realidade é igual a vida,
então eu faço um pequeno pacto quando crio meu dia. Eu digo:


"Estou tirando esse tempo para criar meu dia,

e assim estou afetando o campo quântico.


Se existem mesmo observadores me vigiando o tempo todo

e se existe um aspecto espiritual em mim,


então me mostrem um sinal de que prestaram atenção nas coisas que criei

e façam com que aconteçam do jeito que espero.


Que eu fique surpreso com minha habilidade de sentir essas coisas

e que eu não tenha dúvidas que venha de vocês."

Lucio Abbondati Jr


quarta-feira, abril 19, 2006

WARRIOR´S LIFE (English Version)

As requested, here goes "Vida de Guerreiro" for the english language:

Warrior´s Life


Today, as always, is a battle day.

My enemy is called “Nothing”

And he has two generals at his side, “Nobody” and “Never”.


Their main strategy is the “Myth”

and their weapons, “Apathy”, “Indifference” and “Immobility”,

causes painful and devastating injuries:

the “Disbelief” and the “Incapacity”.


They’re terrible and where they pass,

their effects are noted; “Nothing” was done or created.

At my side, a good army combats them.

Our generals, “Desire”, “Act” and “Create” are feared.


The troop’s moral is high, after all,

“Self-esteem” is our sergeant.


We fight daily and Life is our country.

When combating “Nothing”, our blood boils

and our mind glows. Solution is our goal

and “I succeed!!”, our victory’s cry.


I don’t complain the work. I like challenges.

I am stubborn and don’t give up easily.

I am an Idea’s soldier and my rank is, Creator.


The fight is difficult, not always we win,

even so, the numbers are at our side.

Where we won, things rise,

marking our passage.


Our lines waits you, come to wander our ways.

In the triumph of victory, with an opened mouth smile

you also will can shout yourself, then,

I do realize!!

Lucio Abbondati Jr

sábado, março 25, 2006

VIDA DE GUERREIRO


Hoje, como sempre, é dia de batalha.

Meu inimigo chama-se Nada

e tem a seu lado dois generais, Ninguém e Nunca.


Sua principal estratégia é o Mito

e suas armas Apatia, Indiferença e Imobilidade,

geram dolorosas e devastadoras lesões:

a Descrença e a Incapacidade.


São terríveis e, por onde passam,

notam-se seus efeitos; “ Nada ” foi feito ou criado.


Ao meu lado, um bom exército os combate.

Nossos generais, Desejo, Agir e Criar são temidos.


O moral das tropas é alto, afinal,

Auto-estima é nosso sargento.


A luta é diária e a Vida é a nossa pátria.

No combate ao Nada, nosso sangue ferve

e nossa mente brilha. Solução é nossa meta

e “ Consegui ! ”, nosso brado de vitória.


Não reclamo do trabalho, gosto de desafios.

Sou teimoso e não desisto facilmente.

Sou um soldado da idéia e minha patente, Criador.


A luta é difícil, nem sempre se ganha,

mesmo assim, os números estão a nosso favor.

Onde vencemos, feitos se erguem,

marcando nossa passagem.


Nossas fileiras te esperam, venha trilhar nossos caminhos.

No triunfo da vitória, com a boca aberta num sorriso

tu também, então, poderás gritar a ti mesmo,

eu realizo!!!

Lucio Abbondati Jr


POSTAGENS MAIS RECENTES